Mesa

Já repararam que com o passar dos tempos os objetos perdem algumas de suas utilidades ou adquirem outras novas? Observe a mesa: outrora era suporte para taças e pratos num banquete de natal, inebriada na alegria e festividade, ora era sustentáculo para um corpo sem vida. A mesa que sustentava a comida que repunha as energias era a mesma que aguardava silente o repousar do falecido cansado.

Não só os objetos, mas os humanos também adquiriram novas “utilidades”, pois não se mede o homem por sua honra, por sua habilidade de amar. O humano da atualidade só é considerado ideal quando propicia entretenimento, quando não transparece suas limitações – sim, a aparência é a mais importante qualidade! – O humano superficial, que não erra, que julga, que se veste de hipocrisia acreditando ser verossímil.

As horas ganharam aspectos de segundos. Horas a fio numa conversa familiar não significam mais nada. O humano da atualidade quer tudo e agora, à distância. Estudo. Trabalho. Amores.

A distância de um continente a outro encurtou, mas em detrimento do aumento da distância entre pai e filho. Filhos que não conhecem os livros.

Agora eu também estou à mesa, não de base para corpo, nem de banquete, mas a com computador por cima, este mesmo que lhes escrevo, perguntando-me qual será sua finalidade amanhã, se é que ela ainda existirá.

Do jeito que as coisas evoluem, quem sabe o ser humano também se torne mesa, agregando mais utilidade à sua tão miserável existência.