Alarme falso

De repente a rua foi sendo tomada por policiais fortemente armados. Tudo acontecia em frente a um prédio muito belo, construído em vigoroso concreto e vidros escuros. Era um assalto, provavelmente em uma casa lotérica localizada nos fundos do edifício. Empregados do prédio e curiosos já se agrupavam no entorno da galeria, eu entre eles, e mal percebíamos que estávamos expostos a um iminente perigo – a conhecida bala perdida – apesar das medidas protetivas da polícia. É que soldados corriam desordenadamente pela rua, com armas capazes de disparar inúmeros tiros em poucos segundos. Faziam perguntas às pessoas e no final das contas ninguém sabia de nada enquanto todo mundo comentava tudo. 
As conversas paralelas que eu ouvia davam conta de uma denúncia anônima sobre o assalto à lotérica que culminou no sequestro relâmpago de um casal. Foram levados no próprio veículo quando saiam da galeria. A filha pequena das vítimas fora deixada no banheiro da galeria, pois os lojistas afirmavam ter ouvido o choro de uma criança. Ninguém ousou entrar, diante da suspeita de que ainda poderia haver bandidos no local, provavelmente tão bem armados quanto a polícia. Foi montada uma estratégia para resgatar a criança. Na rua havia muita apreensão quanto àquele delicado momento. O choro havia cessado momentaneamente e um policial finalmente alcançou a porta do banheiro feminino. Com a cobertura dos colegas adentrou, deparando-se com uma surpresa: não havia ninguém, e sim um aparelho celular no canto da pia, ainda com a luz de fundo. O agente verificou que o choro nada mais era do que um simples vídeo. Ao que parece, começou a reproduzir o “som”, travou o carregamento e voltou a funcionar novamente. Quanto à casa lotérica, os funcionários saíram cuidadosamente, certos de que a suposta tentativa de assalto fora frustrada.
A partir destas descobertas, o comandante da operação policial foi revogando procedimentos. Checou novamente o teor da denúncia e viu que era um tremendo alarme falso. Alguém pensou que se tratava de um assalto e acrescentou vários componentes à denúncia, que foram ainda mais inflados por outras pessoas. Assim, o incidente tomou proporções assustadoras. Quando tudo estava esclarecido, não faltou quem ainda afirmasse para a polícia que o esquecimento do celular fora uma estratégia da mãe para dar um sinal e receber ajuda.
Passados alguns minutos, com a normalidade voltando àquela área, eu e uns poucos curiosos ainda estávamos por perto quando adentrou calmamente no prédio um casal com uma criança no colo. Numa breve conversa com o porteiro, este lhes informou do ocorrido e apontou para os policiais. Identificaram-se e receberam o celular das mãos do comandante. Informaram que haviam deixado o prédio há cerca de uma hora e somente naquele momento tinham dado falta do aparelho celular.
A esta altura, entretanto, já circulava nas redes sociais uma foto frontal da galeria cercada por policiais. A notícia afirmava de que a casa lotérica havia sido assaltada, um casal fora feito refém em um sequestro relâmpago e a filha pequena havia sido encontrada chorando no banheiro da galeria.
A postagem percorreu o mundo!!!
Luciano Abreu
Enviado por Luciano Abreu em 02/01/2018
Reeditado em 02/01/2018
Código do texto: T6214743
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