MANHÃ DE CADA DIA.
Amena manhã, o sol distante acenando do alto da colina, enquanto as aves, cantam na copa das árvores, e alegres pulam de um galho a outro, parece crianças a brincarem.
Amena manhã, é o início de mais um dia. Na calçada em frente a minha casa, trabalhadores e trabalhadoras caminham apressados rumo ao ponto de ônibus. Uma brisa suave começou a soprar. A moça de cabelos longos, negros como a noite, perfume suave, salto alto; ela caminha com dificuldades nesta calçada esburacada.
Do outro lado da rua o movimento na creche é intenso, as mães trazem os seus filhos, deixando-os aos cuidados das funcionárias, as crianças, algumas aindas sonolentas, nem se dão conta do que está acontecendo, já outras, um pouco maiores, choramingando reclamam o colo da mãe, mas logo desistem. Ao lado da creche, existe duas escolas, estamos no período de férias, portanto, não há movimentos na escola, é até estranho o bendito silêncio. É apenas mais um dia, e como todos os demais, a vida segue o seu curso, e lentamente se arrasta neste segundo dia deste novo ano. A impressão, é que ainda estamos em 2017, mas é somente uma impressão. O novo ano chegou, e como todos os outros que foram, e os que ainda viram, passará pelos dias sem avisos prévios.
Amena manhã, com todos os seus sabores, com todas as suas delícias, como poeta que sou, aproveitei para compor um poema, inspirado na moça de cabelos longos e de perfume suave.
Eis o poema que escrevi inspirado nessa moça:
É verão, entre tantos, o mais belo,
O sol a pino, raiando o dia,
Os pássaros nas árvores a cantarolar,
De dor? De amor? De tristeza sem enfim?
Quem sabe afinal.
Ao longe nas campinas verdejantes,
O rio caudaloso a fugir,
Suas águas caudalosas entre as pedras,
Serpenteando em uma desconexa dança,
Em meu silêncio apenas observo,
E lá distante a vejo,
Ao longe, a beira do rio, próximo as pedras,
Tão bela jovem que se banhava,
Nadando de um lado a outro,
Brincando com as correntezas,
Mergulhando aqui e acolá,
Em sua pureza juvenil,
A mais bela entre todas as ninfas,
Banhando seu corpo esguio,
Nada é mais belo,
Nada é mais gracioso,
Os cabelos soltos, negros como a noite,
Fiquei apenas observando,
Fiquei apenas desejando,
Quisera eu estar com ela,
Brincar com ela,
Sentir o frescor de sua candura,
Mas sou apenas uma imagem,
Um vulto qualquer,
Em um velho casarão abandonado.
A bela ninfa lá distante,
A correr e brincar,
O sol a ganhar o horizonte,
Anunciando o início de um ciclo,
Os pássaros aos poucos buscam seus ninhos,
E o rio caudaloso continua a fugir,
Suas águas ainda mais agitadas,
Gritando entre as pedras,
E aos poucos, os habitantes do dia,
Surgem despretensiosos e apressados,
Aqui e acolá,
E a bela ninfa, que estava lá distante,
Desapareceu de repente.
Observo o dia com seus braços fortes,
O cantar dos boêmios nos bares,
O velho casarão iluminado pelo sol a pino,
Refúgio dos insetos petulantes,
Um pouco a frente da varanda do casarão,
Lá estava ela novamente,
Com suas vestes transparentes,
Voando ao sabor do vento,
Enquanto ela girava e cantava,
Os cabelos soltos, negros olhos como a noite,
Tornei-me apenas este observador cismoso,
Este poeta sem destino certo,
A bela ninfa a dançar em minha frente,
Até que de repente,
Aquela visão mirabolante desapareceu,
E este poeta entristeceu-se novamente,
Na esquizofrenia de suas palavras.
Amena manhã, meus pensamentos são tranquilos, brandos, quietos neste momento. Guardei a pena de meus versos. Aproveito essa quietude momentânea, aproveito cada segundo desta manhã amena. Logo mais, toda a dor e dissabores da vida virão a tona, trazendo todos os fantasmas do passado, do presente, e do futuro também. O dia então torna-se-a pesado, cansado, e até inoportuno. Mas sou apenas um vulto poético, buscando na flor vida alheia, o néctar de cada dia, depositado carinhosamente em cada palavra que escrevo.