Brasileiros anônimos, heróis de si mesmos

Adinan, 31 anos, desce no ponto final do ônibus que o trouxe para a lida na Zona Leste de Porto Velho-RO. Num envelope ele tem o ordenado do mês. Aproveita e passa no mercado... compra um shampoo, um sabonete, um pacote de macarrão e meio quilo de carne moída. Deixa na Taberna do bairro três notas de R$ 10,00 pra quitar a mistura que havia comprado fiado. Ele chega em casa, antes da mulher, chega vivo, apesar de ter operação policial na entrada no bairro devido às festas de fim de ano. A casa que ele mesmo fez, por ser pedreiro, com ajuda de mais três amigos de Belém do Pará.

A mulher chega depois, ele serve a janta simples mas com amor, pra ela e o casal de filhos. Comem em silêncio. Ele sempre dorme depois de todo mundo, dá, com sorriso no rosto, o shampoo que sua esposa gosta.

Toma um café fraco com pouco açúcar, olha pra rua. Preto ou amazônida, ou os dois. Um trabalhador. Corpo talhado do trampo, pés e mãos calejados, com chinelos remendados. Mas pronto para recomeça tudo de novo amanhã. Dorme numa cama de taipo desconfortável mas é o que tem.

Ele não faz comida elaborada, faz a que tem em casa. Não faz casa de brinquedo aos filhos, faz uma pra família toda, com luz elétrica, e água de poço. Adnian não faz mais que sua obrigação como pai, e nem recebe agradecimentos. Ele não vira notícia na mídia, porque é um trabalhador braçal. E mesmo assim, é herói de si mesmo.

Assim como Adinan há milhares de brasileiros e brasileiras mais incríveis, lindos e importantes que Rodrigo Hilbert e Giselle Bündchen. Ele não faz mais que o esperado por ser um trabalhador que faz do seu dia uma obrigação para viver, e trazer o sustento da casa, por estar onde está, e ainda é pouco, diante do que muitas mães da periferia desse país fazem, sozinhas, estando onde estão na vida. Assim como nossa mãe Maria...

Agora, lindo e perfeito é Adinan e os milhões deles espalhados pelo país afora.