MOSCAS

A quantidade de moscas que apareceu aqui por casa é indescritível, até parece que foram avisadas de seu eminente fim e que o único lugar em que estariam a salvas seria em Laguna.

Estava tomando meu café, o que faço todos as manhãs variando apenas o horário conforme o dia da semana, se útil ou não, e as moscas ao meu redor sobrevoando impacientes, famintas como são todas elas, sedentas pelo meu café com leite e, o mais revoltante, ignorando minha presença.

Não entendo porque razão Noé achou por bem, quando foi capturar os pares de animais para sua arca incluir juntamente um mísero casal de moscas. Imagino que se ele não tivesse lembrado delas hoje estaríamos livres deste inseto asqueroso. Mas ordens são ordens não é mesmo? Mais sério se torna quando esta ordem vem de cima. Melhor não contrariar.

Enquanto eu passava a geléia no pão, elas, intrometidas, como são todas as moscas, tentavam a todo o custo apossar-se daquilo que por direito era só meu, e eu não abriria mão, a geléia.

Indiferentes à minha presença e ao perigo que eu, exímio matador de moscas, representava para todas elas, arriscavam a própria vida pelo alimento, e confesso que algumas a perderam, pois, modéstia à parte, poucos conseguem matar uma mosca com a agilidade que eu tenho. Já ganhei concurso em disputas acirradas na minha infância. Consigo até pegar a mosca viva se eu quiser.

Mas, como diz o ditado, dou um boi para não entrar numa briga e uma boiada para não sair dela. Se elas querem guerra, é guerra que terão. Foram as moscas que começaram. Eu estava na minha, tomando meu café. Elas, abusadas que são, tiveram a infeliz ideia de que poderiam competir comigo. Ingênuas todas elas.

Apesar de existirem há mais de 100 milhões de anos, convenhamos, nós somos muito mais inteligentes que elas. Nosso processo evolutivo, que nunca esteve estático, nos proveu de elementos que permitiram sobrepujar a todos as outras espécies nos deixando no topo da cadeia alimentar, enquanto as moscas nestes milhões de anos nunca deixaram de ser simplesmente minúsculas e primitivas moscas, nada mais. A luta é desigual.

Embora elas estejam em maioria, e bota maioria nisso, não são páreo.

Se você observar os hábitos de uma mosca, vai rir à toa de ridículos que são. Sua meta de sucesso, seu objetivo de vida é comer e se reproduzir.

Se lêssemos a lista de desejos de uma mosca para 2018, imaginando que moscas escrevessem listas de desejo, leríamos: Comer; Reproduzir.

E como todas querem comer e mais ainda se reproduzir, o resultado final é isso que vemos, esta infinidade destes pequenos indivíduos , nojentos , comendo e transando desrespeitosamente à nossa frente, não dando a mínima para o que vamos pensar delas.

Sou obrigado a admitir que no quesito reprodução elas estão sendo bem competentes aqui em casa. Transando desenfreadamente, como só elas, começo a compreender o desespero pela minha geléia.

Pensando bem esta luta não é tão desigual assim.

Cadê o mata moscas?