E OS DIAS SÃO ASSIM.
Hoje, primeiro de Janeiro, é o primeiro dia do ano de 2018, na noite anterior, um minuto antes da passagem do ano, houve muito fogos, rojões multicoloridos. A queima de fogos seguiu seu curso alucinante, em todas as casas haviam pessoas comemorando, nas janelas, nas sacadas, nas garagens. Churrasqueiras acesas, latas de cervejas nas mãos. A madrugada seguiu o seu caminho de comemorações, de abraços apertados, de sorrisos nas faces embriagadas, e nas faces não embriagadas também. Na maioria das casas, a festa durou até às quatro da madrugada, logo depois, veio o silêncio, veio o sono.
Raiou o novo dia, o sol brilhou novamente, todos ainda dormem tranquilamente, sono pesado. Eu estou acordado, sou apenas um observador de tudo e de todos, dormi tarde, acordei cedo, semblante pesado, alma cansada, coração inquieto. Mas não era para ser assim, não era para ser dessa forma; mas infelizmente está sendo assim. Na parede da cozinha o relógio marca cada minuto deste novo tempo, desta nova fase. As primeiras horas deste novo ano são iguais a todas as outras de todos os outros anos anteriores. As mesmas promessas, os mesmos desejos, as mesmas palavras jogadas ao vento.
Houve muitas felicitações, entre tantas recebidas, entre tantos abraços, um único me fez estremecer, e este abraço, recebi-o com os braços bem abertos, e um aperto forte em seguida, eu quis chorar, segurei as lágrimas. Os demais no entanto, não foram tão interessantes. Houve também, um contratempo, uma besteira qualquer, que não deveria ter importância, mas que acabou por acender uma luz vermelha em meus pensamentos. Um alerta de perigo eminente.
Voltando as primeiras horas da manhã, o dia começa preguiçoso, certamente que vai se animar no seu decurso, embora, a mim não pareça tão animador. Hoje eu nao estou feliz, o sorriso em meus lábios é falso e pesado, coloquei-o apenas para agradar as massas, para manter as aparências, como sempre venho fazendo há anos. Já não sei mais quem sou, ou se ainda sou.
Meus pensamentos perambulam desconcertantes dentro de mim, o meu desejo é de fugir, de gritar, de correr, de tudo enfim. Eu quero desesperadamente aplacar a dor que está aqui dentro, mas essa dor não passa, é constante. Eu sou o que não queria ser, eu sou a sombra, o esquecimento, a lágrima e a dor. Mas o ano iniciou-se, cheio de promessas, de desejos mirabolantes, e o que eu sou em meio a isso tudo?
Talvez um pingo de nada, ou talvez o nada em um pingo de tudo, ou quem sabe alguém que esqueceu de se esquecer.
O coração ainda bate, ainda pulsa, entretanto, o seu desejo é parar, é sumir, é correr, é morrer, é voltar ao início de tudo e fazer tudo diferente. Mas o que eu descubro a cada novo minuto, que eu sou o meu próprio destino ambulante, na desconcertante corrida dos ponteiros do tempo, no palco desta vida.