Uma caminhada diferente
A morte me parece uma coisa complicada, está sempre rondando a nossa porta: aproxima, afasta, nos assusta e depois vai embora. Raramente chega de vez. O mais engraçado é que não conhecemos suas feições e, ainda assim, não gostamos dela.
O cemitério é um dos meus lugares preferidos para a caminhada, sempre que posso, vou por lá fazer exercícios por entre as diversas ruas e capelas. O silêncio parece mórbido, mas não é nada disso. Se ficarmos ali quietos, ouvimos as vozes dos mortos, ouvimos os seus ensinamentos e até suas alegrias. O grande problema é que nos acostumamos a ir ao cemitério apenas no feriado do Dia de Finados ou em datas especiais. Esta não é uma boa política. Nesses dias estamos muito sensíveis, contaminados pelos acontecimentos que nos levam a fatos passados.
É estranho ver as pessoas cuidarem de seus mortos, de suas covas, de suas lembranças. Cada um tem um comportamento específico. Uns choram, outros permanecem calados, outros ficam andando de um lado ao outro como baratas tontas. Às vezes vemos duas viúvas chorando pelo mesmo morto, coisas da vida.
Nessas caminhadas às vezes fico divagando, tentando encontrar respostas para tantas mortes. A maioria das pessoas morre de verdade, não deixam nada para trás, são enterradas sem dó nem piedade. Em verdade são esquecidas assim que são colocadas dentro da vala.
Sócrates não quis defender-se diante dos juízes e da justiça humana, recusou a humilhação. Sabia que o extermínio do seu corpo não era nada relevante, aceitou a sentença de morte decretada pela minoria. Ele conhecia o juízo eterno da razão, assim como os caminhos para a Imortalidade.
__ Meu Deus vamos desenterrar os que ainda estão vivos!