O Tempo- reflexão do ano

Antigamente, quando se aproximavam as festas de fim de ano, especialmente a famosa virada de ano, em que um ano termina e o outro começa, eu costumava ficar ansiosa, nostálgica, pensativa demais sobre os planos não concretizados, coisas velhas pra jogar fora, desapegar de alguns hábitos, manias, coisas não vividas e o que era preciso para o ano seguinte ser perfeito, virava uma alegoria combinando cores que me atrairiam fortuna, amor, paz e todas as outras satisfações pessoais que depositamos em roupas. Parece uma síndrome que ataca todas as pessoas. Este ano, estou um pouco diferente, talvez seja o amadurecimento, o correr do tempo ou simplesmente o poder do agora. Este ano foi complexo, em muitos sentidos, algumas perdas me encaminharam ao encontro de mim mesma, alguns pesos me foram tirados dos ombros e outros colocados; este ano eu vi algumas amigas casarem, serem mães, vi outros amigos se separarem, vi o amor, vi a dor no rosto de muitas pessoas que eu quero bem. Conheci pessoas que passei a querer bem. Em um ano tão complexo, eu consigo sentir um pouco da "lição da vida" feita. Eu fiquei triste de verdade, eu abracei minha tristeza, eu senti raiva, culpa, medo, egoísmo, mágoa, ódio. É, eu senti, senti de verdade. E quando a gente se permite sentir essas coisas que são tidas como ruins, é possível perceber que a ruindade é uma questão de perspectiva e que sentir coisas assim não quer dizer que eu seja necessariamente ruim, apenas que eu não sou completamente boa como pensava. Mas, a mesma capacidade de sentir essas coisas, aflorou a intensidade da minha compaixão, generosidade, autoestima, respeito, gratidão e amor. Chamemos de equilíbrio essas descobertas que surgem com o passar do tempo. O que o passar do tempo vai fazendo com a gente é forte, os dias passam e muitas vezes nem percebemos que eles se acumulam numa pilha de coisas que não fazem o menor sentido. Ontem era o inicio deste ano, cheio de planos e propósitos, hoje, acaba, o ciclo do calendário, e os planos, propósitos são encobertos pelas areias de um tempo que a gente não vê passar por que parece não ter sobrando. Nunca. O momento agora não é de fazer planos, mas de estabelecer metas para o tempo que se esvai. A meta é aproveitar o tempo, aliar-se a ele, enquanto há saúde, vida e disposição. Aliar-se ao tempo, está associado a meu ver, a realização pessoal, não apenas financeira, intelectual, profissional, amorosa, espiritual, mas, a pessoal, que une pequenos elementos de cada uma destas. Nem sempre temos o que desejamos, às vezes oportunidades e pessoas nos escapam sem que possamos controlar estes truques do tempo. Este pode não ter sido o melhor ano, mas, com certeza foi aquele em que mais vi gente gerando gente, e esta gente que está sendo gerada, daqui a algum tempo será gente grande e nem vai lembrar que um dia já esteve no útero de alguém, o tempo traz esquecimento, por que as suas curvas sinuosas, colocam sempre algumas lembranças para fora da estrada, não dá pra voltar e buscar. Muitas vezes os arroubos do tempo, nos quebram, nos desmantelam, e não dá pra voltar e consertar. Tantas vezes ele é generoso, nos proporcionando momentos ímpares de felicidade, e não dá pra congelar e eternizar, tudo passa, bem e mal. Por tantas vezes as intempéries do tempo nos derrubam, e não dá pra ficar esperando alguém surgir e nos oferecer uma mão pra levantar. É preciso erguer-se sozinho, por que é assim que o tempo passa para nós, individualmente. O tempo não faz distinção de nós, é isônomo, nós é que fazemos distinção do tempo, as ações dele sobre nós são iguais, nos quebra, nos refaz, nos envelhece, nos renasce, nos derruba e nos levanta, as nossas ações sobre o tempo é que determinam quão proveito nós estamos tirando da vida que ele nos dá e tira todos os dias. Por isto, este fim de ano, me trouxe algo diferente, um pouco de esperança, coragem, gratidão e até mesmo paciência e sabedoria. Não é preciso jogar coisas fora, apenas, tirar de dentro do coração o que não faz bem, não é necessário virar uma paleta de cores, ou vestir uma única cor, para atrair o bom, apenas mentalizar e sentir boas coisas ainda que despida, não é o que tá fora, é o que tá dentro que precisa de melhoramentos, não trata-se de mudanças radicais, mas, de pequenas evoluções diárias, que são obtidas com consciência reflexiva. E daí que partiram meu coração? Choro o tempo necessário, ou até o tempo jogar a solidão aos meus pés, lembrando oportunidades e pessoas que deixei passar só por estar embebida nas minhas dores mesquinhas. O tempo não é mesquinho, nós somos, por que gastamos horas demais trabalhando em excesso para aproveitar um tempo que nos é desconhecido chamado futuro, ele, o tempo não é superficial ou vingativo, nós somos, em nossas teias de rancores, corpos malhados, declarações vazias, amigos e amores virtuais e casos mal resolvidos. O tempo não é um sacana, nós somos com nossas mentiras e traições. Ele segue o ritmo do universo, passando, levando e trazendo tudo que damos ele. Este ano me levou a concluir, que eu não quero ser só, não preciso ser só, bem como, que algumas companhias são totalmente dispensáveis. O fim de ano, não precisa ser o radicalismo de fins e começos, mas a continuidade de um processo evolutivo capaz de aflorar a gratidão no imo do nosso ser. É momento de fortalecer os laços criados com aqueles que nos importamos. O tempo é um mestre e devemos aprender um pouco a respeito desta sapiência, para que o entrar e sair dos anos não seja o motivo das nossas aflições, mas, o propósito que reflete a nossa cura.

Tatiane Pereira dos Santos
Enviado por Tatiane Pereira dos Santos em 31/12/2017
Reeditado em 31/12/2017
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