Peter Pan
A tabela periódica do homem, biométrica, portanto, é implacável, podendo até pular algumas etapas, mas sempre revelando adiante, que o hiato deixado para trás cavou um abismo.
Os primeiros anos de vida revelam uma fase lúdica, a magia, o encantamento, onde podemos transformas chuchus em vaquinhas, bicicletas em aeronaves tudo permeado por super heróis, prontos para salvar o mundo.
A adolescência, ah, adolescência!!! Onde as meninas deixam de ser aquela gosma chata, que só atrapalham a vida dos mocinhos, em filmes de ação; elas passam a ser vistas com todos os seus contornos, particularmente os físicos, que enchem as cabeças dos adolescentes....de pecados; todas as professoras são sonhadas como professoras de anatomia, e o mundo feminino é olhado com pouca roupa, pelo mundo masculino.
De repente, não mais que de repente (citação de Vinícius de Moraes) chegam as camisinhas, anticoncepcionais, motéis em profusão, e risco de concepção.
Autonomia, busca de um enquadramento no mercado de trabalho, o primeiro carro,e o sonho de uma vida própria, mas o tempo é inexorável, e chega a idade dos “entas”, onde as primeiras dores são atribuídas ao cansaço, e a aceitação de uma acuidade visual deficitária é refutada, como se fosse o prenúncio de tempo seco, inóspito e árido.
Nos primórdios, óculos já devem ter sido considerados como a Fênix, o renascer das cinzas, a recuperação da visão quase perfeita, mas na tabela periódica do homem atual não. Hoje os óculos são definidos como envelhecimento precoce, sinal de maturidade anacrônica e sintoma de velhice, e, coincidentemente, os óculos acontecem de maneira simultânea, com os primeiros fios brancos na cabeleireira.
Injustamente, essas hastes, que seguram uma lente sobre o nariz, geram uma resistência, sem propósito, naqueles que envelhecem,como se os óculos fossem a bandeira que anuncia a senilidade, que, aliás, mandam outros recados, outros sintomas, como a impotência, mas esses outros sintomas são privativos, e não cabem em discussão pública, são pessoais e guardados no íntimo de cada um, no íntimo ou em qualquer outra parte da nossa anatomia.
A chegada à velhice não tem uma entrada apoteótica, não canta o hino à maturidade e sabedoria, registra os primeiros exames de próstata, as justificativas, como:-Desculpe-me, eu estou muito cansado, para os primeiros fracassos, e a necessidade de sestas após as refeições.
O tempo de ser levado lá fora, para tomar um sozinho, o uso dos fraldões, e dos andadores, a carga de dois, ou três stents no coração, ainda não é chegado, procure aceitar que, sem a lupa, não consegue mais enfiar uma linha no fundo de uma agulha, aceite o tempo que passa, e use seus óculos, que, com certeza terão o grau alterado, a cada ano que passa, mas tranqüilize-se, é em progressão aritmética