A FARSA DO CORRER ATRÁS
Crônica de Gustavo do Carmo
Na Festa Literária Internacional de Parati (a famosa FLIP) de 2014, o consagrado cineasta Cacá Diegues, em sua palestra, se queixou de um aspirante a roteirista que o teria perseguido na cidade da costa verde fluminense para lhe entregar um roteiro. A muito contragosto, Cacá aceitou. Mas ficou debochando, dizendo que não era o estilo dele e sim de outro cineasta, José Padilha, diretor de Tropa de Elite, que teria inspirado o roteiro do aspirante.
Foi uma lamentável demonstração de arrogância e prepotência da parte de Cacá. Uma prova de que para entrar no mercado artístico (e de trabalho, também, em qualquer área) só tendo um amigo bem influente.
É por causa de atitudes como esta que eu não corro mais atrás das minhas oportunidades. Já corri bastante e me cansei. Nunca tive sucesso. Já fui a uma peça de teatro para depois o diretor, que tinha me convidado, voltar atrás e ficar me dando sermão. Já pedi para um ex-professor ser meu agente literário e ouvi dele que eu deveria procurar um emprego. Já mandei livros por SEDEX e até pessoalmente (enfrentei até vento forte na cara na fila da identificação para entrar no prédio) para receber cartinhas com palavras bonitas dizendo que eu fui rejeitado. Já participei de várias dinâmicas de grupo e entrevistas, mas não fui aceito por ser muito sincero. Já tentei trabalhar como vendedor de automóveis e ouvia piadinhas dos meus colegas de faculdade. Tentei ser vendedor de curso de inglês, produtor de clipping e decupador de fita de reality show. Já cursei uma pós-graduação de telejornalismo para fazer amizades e abandonei o curso com muitos desafetos entre colegas babacas e esnobes.
Já pedi emprego nessa famosa produtora de humor na internet e fui rejeitado porque eles só tinham vagas de roteiristas para os amigos. Já mandei contos e roteiros para uma lista de produtoras e só tive uma única resposta (negativa).
Pouco tempo depois, um ex-amigo virtual foi indicado para trabalhar em uma delas. Já me antecipando ao esnobismo e arrogância dele, rompi a amizade.
Parecia que eu estava certo. Meses depois fiquei sabendo que uma famosa atriz produziu um curta com uma sinopse muito parecida com o conto que só este amigo virtual tinha lido até eu resolver publicar no meu blog Tudo Cultural. Pode não ser plágio e o ex-amigo pode não ter vendido o conto sem o meu consentimento, mas achei muita "coincidência" na situação.
Enfim, não adianta correr atrás. Você pode ser ridicularizado. E plagiado, também. O sucesso e as oportunidades só aparecem se você tiver amigos. Bem influentes, de preferência.