UMA CADEIRA ANTIGA
Nair Lúcia de Britto
Mamãe costumava contar-me sobre o seu sonho de moça. Queria muito estudar... Bonita e inteligente, não se preocupava em se casar, como as as jovens do seu tempo. Algo a impelia para os estudos e uma realização profissional...
Mas eram tempos difíceis! Tempos de revolução!
Meu avô a duras penas ganhava o pão para uma família de oito filhos. Nem todos puderam se formar; e assim o sonho de mamãe não aconteceu!
Um belo dia, leu um anúncio no jornal: Precisa-se de uma ajudante de costureira. Nunca tinha pego numa agulha para costurar. Mesmo assim habilitou-se; às escondidas do meu austero avô, que jamais permitiria que uma de suas filhas trabalhasse fora de casa.
Foi assim que aprendeu a costurar e, como costureira, obteve independência financeira... Nunca ficou rica, isso lá é verdade, mas gostava de ter seu próprio dinheiro.
Quando eu era criança, confeccionava todos os meus vestidos... lindos vestidos, enfeitados com rendas e babados. Trançava meus cabelos... Comprava-me bonecas e bombons. Bons tempos!
Naquele dia, mamãe carregou-me com ela até a casa de uma cliente a fim de lhe cobrar o feitio de um vestido. Sem graça e sem dinheiro, a cliente lhe propôs:
-- A senhora aceita esta cadeira como pagamento?
Minha mãe trocou um rápido olhar comigo, enquanto refletia: Ou era a cadeira, ou nada!
Bem, mamãe levou a tal cadeira para casa.
Uma cadeira antiga, de braços... madeira maciça, bastante pesada... Herdei a cadeira antiga de minha mãe.
Por algum motivo, que eu não saberia explicar, levo essa cadeira comigo; sempre que me mudo de casa. Agora mesmo, esta cadeira está aqui na sala, aqui em casa, enquanto escrevo esta crônica. Tão antiga, quanto descorada...
Sempre que eu olho para essa cadeira, eu me lembro de mamãe... Debruçada sobre a máquina de costura, ganhando seu dinheiro com dignidade. Ou, então, ensinando-me a chulear, alinhavar, pregar botão, fazer a baínha do vestido. E como, ainda hoje, me são úteis os seus ensinamentos!
Ou, então, das vezes que eu ficava doente e ela, muito aflita com os olhos cheios de lágrimas, ao lado da minha cama, cuidava de mim... Acho que ninguém no mundo nos ama mais do que a nossa mãe; daí essa saudade, essa ternura, esse bem querer infinito...
Mamãe, que Deus te proteja! Desculpe-me às vezes que eu não refletia o quanto você era importante para mim! Obrigada pelo seu carinho e por tudo que fez por mim.
Que Deus que me dê sempre a sua força, determinação e coragem... Tenho orgulho de você, te amo e sinto saudades!
Nair Lúcia de Britto
Mamãe costumava contar-me sobre o seu sonho de moça. Queria muito estudar... Bonita e inteligente, não se preocupava em se casar, como as as jovens do seu tempo. Algo a impelia para os estudos e uma realização profissional...
Mas eram tempos difíceis! Tempos de revolução!
Meu avô a duras penas ganhava o pão para uma família de oito filhos. Nem todos puderam se formar; e assim o sonho de mamãe não aconteceu!
Um belo dia, leu um anúncio no jornal: Precisa-se de uma ajudante de costureira. Nunca tinha pego numa agulha para costurar. Mesmo assim habilitou-se; às escondidas do meu austero avô, que jamais permitiria que uma de suas filhas trabalhasse fora de casa.
Foi assim que aprendeu a costurar e, como costureira, obteve independência financeira... Nunca ficou rica, isso lá é verdade, mas gostava de ter seu próprio dinheiro.
Quando eu era criança, confeccionava todos os meus vestidos... lindos vestidos, enfeitados com rendas e babados. Trançava meus cabelos... Comprava-me bonecas e bombons. Bons tempos!
Naquele dia, mamãe carregou-me com ela até a casa de uma cliente a fim de lhe cobrar o feitio de um vestido. Sem graça e sem dinheiro, a cliente lhe propôs:
-- A senhora aceita esta cadeira como pagamento?
Minha mãe trocou um rápido olhar comigo, enquanto refletia: Ou era a cadeira, ou nada!
Bem, mamãe levou a tal cadeira para casa.
Uma cadeira antiga, de braços... madeira maciça, bastante pesada... Herdei a cadeira antiga de minha mãe.
Por algum motivo, que eu não saberia explicar, levo essa cadeira comigo; sempre que me mudo de casa. Agora mesmo, esta cadeira está aqui na sala, aqui em casa, enquanto escrevo esta crônica. Tão antiga, quanto descorada...
Sempre que eu olho para essa cadeira, eu me lembro de mamãe... Debruçada sobre a máquina de costura, ganhando seu dinheiro com dignidade. Ou, então, ensinando-me a chulear, alinhavar, pregar botão, fazer a baínha do vestido. E como, ainda hoje, me são úteis os seus ensinamentos!
Ou, então, das vezes que eu ficava doente e ela, muito aflita com os olhos cheios de lágrimas, ao lado da minha cama, cuidava de mim... Acho que ninguém no mundo nos ama mais do que a nossa mãe; daí essa saudade, essa ternura, esse bem querer infinito...
Mamãe, que Deus te proteja! Desculpe-me às vezes que eu não refletia o quanto você era importante para mim! Obrigada pelo seu carinho e por tudo que fez por mim.
Que Deus que me dê sempre a sua força, determinação e coragem... Tenho orgulho de você, te amo e sinto saudades!