Navegante

Já houve dias de calmaria, dias de tempestade. Já houve uma época que eu nem navegava. Por que raios fui me enfiar neste mar?

Minha embarcação não está apta para navegar em águas tão inóspitas, as ondas jogam-me pra lá e pra cá, penso em desistir... Não estou acostumada às provas que essa vida náutica me impõe.

Por outro lado, sinto que se não fosse os dias sombrios e devastadores, eu nunca haveria aprendido, eu nunca haveria me tornado perita nesse assunto, são as mazelas que nos transformam em algo superior ao que erámos, nossa evolução de nós mesmos. Isso que importa.

Continuo na esperança de avistar minha ilha perdida, aquela que trará meu refugio terrestre. Como se todo esse sofrimento fosse recompensado no imediato momento que percebo aquele pedaço de terra, ali, boiando sob uma imensidão de água. Como somos pequenos!

Somos um nada em relação ao tudo, tudo que não consigo entender, tudo o que está lá fora. Se nem consigo entender tudo o que está aqui dentro, ora, que dirá o que rondeia lá fora. Ademais, essa minha cisma de entender o porquê das coisas já passou há muito tempo, porque entendi que entender é nada em relação ao sentir o que preciso sentir. Só não aprendi a ser menos confusa, isso me é quase impossível!

No entanto, há algum tempo já atraquei em uma ilha, muito bonita por sinal, tranquila e inabitada, um paraíso nesta terra. Tinha um ambiente agradável e belezas indescritíveis. Era tanta paz e sossego que me irritou, e não consegui permanecer nem mais um segundo ali. Retornei para o meu mar, agressivo e intempestivo. Eu corri para seus braços de amor, amor que reconheci na hora em que ele começou a me jogar para lá e para cá novamente.

Acho que finalmente entendi o porquê de ter me enfiado neste mar, só acho que não estou preparada para a resposta. Talvez deva permanecer quieta e continuar a manter essa incógnita para mim mesma, talvez eu deva continuar me enganando. Talvez eu deva parar de procurar outra ilha, porque eu pressinto que irei me irritar de novo, porque eu sou assim. Talvez minha felicidade não dependa de um paraíso, mas provenha e necessite do caos. Talvez eu esteja só divagando no nada, talvez eu nem exista. Talvez...