O BEBÊ

Eu vi um bebê. Ele não estava em seu berço, ou nos braços de seus pais. Leito de hospital era seu aconchego. Ele estava ali, tão frágil, sofredor e pueril, que eu não pude me conter. Houve um nó na garganta, e senti uma imensa vontade de apanhá-lo e sair correndo, sem olhar para trás. Lagrimas me vieram.

Eu não entendo o porquê de uma criaturinha, que ainda não viveu para pecar, ter que sofrer para pagar os pecados do mundo. Por que o mundo é tão cruel?

Ele estava ali, com olhinhos de jabuticaba, tão inocentes, que achava que nós éramos bons, porquanto lutava para viver. Mal sabia ele que nada perdia se partisse.

Eu ainda sinto grande dor por lembrar-me da imagem que vi, dele ali, mas sei que daqui a alguns dias irei esquecê-lo. Nós não costumamos nos lembrar do que realmente importa - Só se for algo que nos interessa.

Mas ele ainda continua ali, com tubos machucando o micro narizinho, que ainda não se deu ao trabalho de respirar ar poluído. Ele não sabe o que se passa, só sente, e sente amor.

Eu vi um bebê e ele estava na praia. Não sorria, nem brincava, ele nem respirava. Só estava ali, inerte e indolor, mas continua amando um mundo que não o mereceu. Como somos ignorantes e maus, fazemos as guerras que devastarão o nosso próprio mundinho ignóbil. Guerras que mutilam e roubam os resquícios da inocência. Inocência?

Os adultos, nós, inventamos a maldade, e quem cumpre as penas, são estes pequenos inocentes. Inocentes que logo crescerão, e inventarão mais e mais maldades. É... nós temos essa habilidade de aprimorar a maldade. E como somos hábeis nisso!

Mas eu continuo me lembrando deles, ao menos até ao termino deste texto. Enquanto eu lembrar, irei sentir... Mas minha memória é tão falha... Eles ainda continuam ali... Eles?... Ele quem?