O CADERNO DE GABRIELA
Nair  Lúcia de Britto
 

Esta história começou numa tarde, na Escola.
Aos oito anos de idade Gabriela era uma menina muito precoce!

-- Pare de conversar, Gabriela! – a professora a repreendeu.
Imediatamente a menina parou de falar com a coleguinha, sentada no banco de trás.  Voltou-se para a professora e recomeçou a copiar a lição que ela estava escrevendo  no quadro-negro.

-- Gabriela, Gabriela!... – A professora novamente chamou sua atenção.   Desta vez era a coleguinha que puxou conversa e Gabriela não pôde deixar de responder. Mal abriu a boca e a professora, muito zangada, veio em sua direção. -- O que foi que eu falei, Gabriela?

-- A senhora falou pra eu não conversar—a menina respondeu, educada.
-- Isso mesmo! E a senhora não obedeceu, não é verdade?
-- Desculpe, eu só... só...
-- Sem desculpas! – A professora aproximou-se mais e ordenou: -- Dê-me, já, o seu caderno! Vou escrever um recado para sua mãe.
Gabriela empalideceu.
-- Não, professora, no meu caderno, não! -- falou com convicção. E apertou  o caderno junto ao coração.
-- Dê-me seu caderno, vamos! Eu estou mandando! – E tentou pegar o caderno que Gabriela apertava junto a si.

Então, sabe o que a menina fez? Sentou em cima do caderno, sem dar a menor chance de que o professora o tomasse.
A professora acabou desistindo diante de tamanha obstinação.
-- Você não vai me entregar seu caderno? Pois bem, vou escrever um bilhete num papel à parte e,  se você não me devolver assinado pela sua mãe, não vai entrar na classe, amanhã.
  
Assim que chegou em casa, Gabriela entregou o bilhete à mãe.

A mãe leu com atenção o bilhete que dizia:

“Prezada senhora,
Através deste, venho lhe informar que sua filha conversa demais durante as aulas. Também é muito teimosa e desobediente, pois não permitiu que eu escrevesse este bilhete em seu caderno. Solicito que a repreenda.
Grata.”

Depois da leitura do bilhete a mãe recomendou à menina:
--Você não deve conversar na classe. ´´E um desrespeito à sua professora, atrapalha a aula e você não aprende a lição!
-- Eu sei.
-- E por que você não entregou seu caderno para a professora?
-- Porque eu não queria estragar meu caderno.
-- Posso ver seu caderno?

Com o caderno de Gabriela em  mãos, a mãe começou a folheá-lo lentamente, da primeira à última página escrita. Seus olhos lacrimejaram e de seus lábios aflorou um sorriso orgulhoso. O caderno da menina estava impecável, nenhum erro!  A letra miúda, bem traçada e todas as páginas estavam ilustradas com desenhos coloridos. Um passarinho... uma flor... uma casinha... uma árvore... Tudo feito no maior capricho!

-- Seu caderno está lindo! – A mãe abraçou a filha, ainda sorrindo. E, depois de assinar o bilhete,  respondeu:

“Cara professora,
Concordo que os educadores devem orientar uma criança sobre o que é certo e o que é errado. Mas sem desrespeitar seus valores, sua personalidade e seus sentimentos. Se reparar bem no caderno de Gabriela, entenderá o porquê de sua teimosia.”


 

Rememoro este episódio  com muita emoção. Porque Gabriela , desde cedo. demonstrou um grande amor pelos estudos e, até hoje, tudo que faz é com muito esmero e cuidado. Trabalhou muito para ser  advogada e continua estudando em busca de mais conhecimento para melhor desenvolver seu trabalho. Graças a Deus todos os meus quatro filhos são muito esforçados e eu me orgulho de todos;  cada qual com seu talento. Ofereço este depoimento a  todas as mães, para que amem seus filhos acima de tudo, mesmo que um dia tenham que os devolvê-los  para a vida.
Esta história representa um dos momentos mais felizes da minha vida!  
 

 
 
 

 
Nair Lúcia de Britto
Enviado por Nair Lúcia de Britto em 26/12/2017
Reeditado em 26/12/2017
Código do texto: T6208922
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