VIVER ERA PERECISO...

VIVER ERA PERECISO...

teacherginaldo@hotmail.com

Eu sempre fui meio rebelde. Daí a minha predileção por Cazuza. Não porque hoje é modismo dizer que é fã do Caju. Mas, porque vivíamos do mesmo jeito que ele. Ou quase. Éramos também filhos da repressão. E ELE, surge como porta-voz de uma geração que precisava gritar para o mundo todo ouvir. Nasci e cresci na Ditadura, onde se expressar livremente não era permitido. Sou da geração do desbunde dos anos 80. Da praia, do luau e fogueira ao som do violão. Das noites de rock’in’roll. Do Sol e mar. Da galera do “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Do tempo em que não tínhamos tempo a perder. Viver intensamente era o lema. Não tínhamos tempo para bobagens. Só a curtição do momento nos fascinava. Viver era preciso. Das noites de bar em bar a procura da boa música. Da liberdade de chegar e sair pela tangente quando o papo era meio down. Não tínhamos tempo para ouvir músicas de baixa qualidade. Lixo consumível. Midiático. Que para fazer sucesso tem que mostrar a bunda. Éramos devotos do alto e bom som. Do rock do Barão Vermelho, da Rita Lee. Da linda Marina. Da MPB do Caetano, Gil, Bethânia e Gal. Do lirismo dos Secos & Molhados. Do budismo moderno dos Mutantes. Da fusão musical mítica dos Novos Baianos. Dos botecos onde conversávamos e discutíamos letras de músicas regadas à cerveja e cachaça. E nesse emaranhado cultural a literatura e o cinema também estavam presentes. Líamos os livros, os jornais, as revistas. Íamos ao cinema e assistíamos a filmes de diretores que dialogavam com a nossa linguagem sem precisar de palavras. E neste meio termo descobríamos o mundo que não nos era permitido viver. Mas, que vivíamos e fazíamos coisas que até hoje não é permitido fazer. Amávamos e chorávamos embalados pelo amor e sexo casual. Livre de medos e decepções. Íamos fundo. Porque o medo ainda não existia. O sexo não era perigoso. Nem o prazer era risco de vida. Nosso espaço era aonde queríamos estar. Onde dividíamos com outras tribos, sem preconceito algum, o mesmo objetivo: viver.

ginaldo
Enviado por ginaldo em 26/12/2017
Código do texto: T6208660
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