Castelo de Papel
Seu coração em uma bandeja é o meu quadro preferido do nosso antigo altar empoeirado, coberto pelo véu escuro do passado. Seu coração em minhas mãos gélidas é o castigo pelo açoite sem prazer, e por minha pele marcada pelo seu punhal envenenado. O golpe veio do alto, quando me curvei a ti.
Entorpecida, ouvi teu gargalhar, seus olhos de gelo inexpressivos desprezavam o coração arrancado do meu peito, o colar sagrado que me enfeitava, na garganta de uma meretriz. Amanheceu, e as paisagens foram modificadas, dias pintados de cinza, e eu perdida estava naquele caminho turvo.
Buscando redenção pelos pecados que eu desconhecia, caminhei por aquele destino incerto, contemplei o nascimento do teu castelo de papel, e minha coroa acima da tua plebeia de alma negra, vazia como tu, belo par, nova princesa, reinando em cima da minha dor, aplaudidos por traidores.
Vultos de lembranças passavam por mim assombrando minhas noites. Lembrei-me que com uma espada me rendeu, e com a mesma despiu minha alma, me fazendo prometer que parte de mim seria tua, essa vagueia por seu mundo, e voltará para mim, com a bandeja e a tua coroa.
Meu desejo é uma prece, não quero sua dor, apenas que suas palavras decoradas volte para ti como flechas, e tuas promessas sejam seu novo lar, que seu destino seja teu espelho, e que teu mundo tenha tuas pinturas, com tintas que escorrem com o tempo, assim como todo o som que sai da sua boca, e as letras repetidas que escreve.