O OUTRO LADO DO MEU NATAL

Chegou o Natal! Que repiquem os sinos da amizade, do afeto, dos laços familiares. Época mágica para deportar sentimentos indigestos e deixar reinar o que for do bem, o que trouxer flocos de paz. No Natal as diferenças se destoam, o que doía agora é só gosto bom. Natal é pretexto para os corações se tocarem, numa simbiose que faz o chão se curvar de tanta escória. Natal é tempo das almas trocarem seus donos, dos destinos se alinharem, da fé dizer a que veio. Natal é tempo dos engasgos saírem de suas tocas, das nevascas do desamor fosforescerem com o gotejar do perdão. Natal é tempo das rebarbas recolherem suas mamas e se irmanarem num abraço escancarado. Natal é a vez dos sonhos coalhados esquecerem seus roteiros e se jogarem numa folia só. Natal é a deixa para o reverso das vaidades desanuviarem seus ferrolhos - todos eles; sim todos eles. Natal é quando as dissimulações engatam seus torrões, como gladiadoras pervertidas buscando seu quinhão de ar. Natal é quando os ventos das paixões farsantes se descartam dos seus guardiões, como ossos encardidos de uma querela qualquer. Natal é a voz mais pujante dos nossos becos encardidos, cadafalso lúgubre das manjedouras cálidas, do desprezo mais repleto de todos nós. Natal é a ressaca dos que acreditam nas gélidas manifestações de afago. Sua festança faz dissecar cada floco de podridão que permeia o que dizemos ser felicidade. Natal golpeia com enlouquecida razão cada voz lacrimejante que se atraca numa ceia que nunca acaba. Natal é o gozo dos que buscam o calor do outro para aquecer seus medos, suas ilusões. Uma data para deleitarmos nossas mazelas entre nacos de peru, entre goles de uma Cidra vencida, entre o permear daquela uva-passa tão suculenta. Natal é a vingança dos céus diante dos nossos desacordes, como um mantra que nunca desliga suas rotativas. Natal é o réquiem das feridas mal ajambradas, dos porres pouco averbados, das manhas tão descabidas. Natal faz o que temos se enfartar, caindo de bêbado numa soleira que mal atiçamos. É quando nos rendemos à graça de sermos frutos do mesmo quinhão, versos da mesma escuna. Adoro o Natal pela oportunidade de entender o sentido das vida; a mesma vida que hoje se mostra altiva, espetada numa cereja que dá o toque magistral à maionese. Viva o Natal e todas sua nervuras, todos seus badalos, todos seus encantos., toda sua luz!

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 24/12/2017
Código do texto: T6207389
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