NOSTALGIA DO NATAL
"Tempo bem fechado
numa cidade qualquer."
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O céu permanece nublado nessa noite; nenhuma estrela patente visível, embora ainda sem chuva. O espaço, sempre um verdadeiro mistério, com a sua imensidão infinda, etérea. Como seria transitar por todo esse cosmo misterioso, percorrendo as incontáveis vias celestiais, diante de tantos astros, planetas e constelações, um sonho insólito, diga-se de passagem, inefável, envolvente, inebriante, como os se dão os sonhos numa visão poética de natal?
Mas o firmamento, durante todo o dia, pela cidadezinha, se mostrou triste e assim continua a estampar sua tristeza, com a chegada da noite, o que o faz parecer ainda mais incógnito para muitos, distante e inatingível. Mas é preciso crer que, de uma forma ou de outra, somente os artistas, a considerar os poetas, conseguem atingi-lo em toda a sua magnitude plena, à sua maneira, por meio da arte peculiar, a concederem-lhe um sentido singular.
Mas por onde se escondem as estrelas nesse momento? Será que porventura buscam evadir-se das incontáveis agruras e intempéries desse vasto e sofrido mundo? Como seria a sensação de um universo totalmente livre das mazelas, em que a eclosão de um planeta inédito viesse a se constituir num bem comum para todos, onde a força da maldade pudesse ser expirada de vez para bem longe, quem sabe, em direção à profundeza do cosmo, e que as pessoas pudessem finalmente conquistar de vez a paz, a fina flor da total empatia? A vida, em muitos momentos, corresponde a um perfeito labirinto. Tantas vezes, transitamos por corredores incertos na tentativa de buscarmos uma saída, que seja. Como se nos sentíssemos impelidos, à maneira de uma criança, a tomar um mero lápis qualquer e realizar inúmeros rabiscos, feito boas garatujas, num papel providencial, de lá para cá, de cima para baixo, da direita para a esquerda.
Da mesma forma como ocorre com uma visão infantil, ao mirar agora o firmamento com a ausência (quem sabe, temporária) de seus muitos astros luminosos, dá para se imaginar a trajetória percorrida pelo santo bom velhinho a distribuir seus sonhos tingidos de neve ou, por vezes, cobertos de purpurina. A alma de um pequeno tão singela quanto à delicadeza da purpurina, solta, totalmente livre a se espalhar pela imensidão espacial. A presença do bom velhinho com seu tradicional e antiquíssimo uniforme rubro, a se estender atrevidamente às alturas, ante o céu sombrio e tristonho. As estrelas que se acham por hora escondidas, não são as mesmas que se tornaram, um dia, curiosos objetos de investigação por parte dos astrônomos e demais cientistas espaciais. Mas as que ainda fazem ou já fizerem parte das fantasias dos bons caminhos pueris. O fato de não conseguir avistá-las é tão doloroso quanto a distância das inolvidáveis experiências passadas.
A nostalgia de um natal precioso que, em dado momento anterior, se perdeu e ficou para trás, e que decerto se acha totalmente escondido no interior de um desses asteroides sombrios vagando pelas profundezas etéreas.
E em meio à chuva que finalmente começa a desabar sobre a cidade noturna, eis que surge um astro cintilante, aparentemente desconhecido, a brilhar continuamente sozinho, ante todo o deserto proporcionado pelo tempo. Vestígio de esperança?