Panem et Circenses
Dos mais assíduos frequentadores do grupo Arrastão de Pitangui, - esse movimento que já se tornou uma instituição na cidade por não perder uma terça-feira do golo e goela, já erado de 22 anos - o Dr Fauzy, odontólogo da turma, lança-me um repto, com todos os dentes:
- Por quê não faço uma crônica sobre a cena mais exótica da cidade: o circo dentro da fábrica?
E não é só pândega a situação suscitada pelo menino de Dona Sálua Nazar, ela parece sugerir bem mais aspectos analíticos de nossa vida hodierna. A fábrica, afinal, que pautou a vida econômica da cidade por várias gerações calou-se há quase vinte anos e em seu vasto território, devastado e ainda cercado por paredes e muros ciclópicos, também fadados à queda, não queda mais do que o vazio, a desolação. Seu futuro imediato será a transformação num conjunto de lojas, residências, e área de lazer que nossa geração por certo e perto há de ver.
E enquanto não se completa a demolição, e se começa a erigir o novo conjunto, o Circo Kalahary chega à cidade e lá se instala, dando ocupação, ainda que efêmera ao vácuo da transição.
Panem et circenses é o lema celebrizado dos imperadores romanos para
manterem a ordem do populacho no império por meio do pão e da diversão. Como a fábrica era de tecidos, ouso propor que panum et circenses, ou seja pano e circo, estaria mais ajustado à nossa atual situação. E se mais rimas quereis, gladiadores da ocasião, por quê não então, acrescer-se a palavra da moda: corrupção?
De palhaçada em palhaçada, vamos tentando nos equilibrar, entre a falta galopante do emprego, da justa remuneração e sobretudo na decência dos costumes. Mas o circo nos faz falta sim, e a diversão, mola-mestra da distensão e da criação é fundamental nas nossa vidas do trabalho - e mais da falta dele, agora - já tão sofridas. Espaço para outro dito latino aqui, de retumbante atualidade: Castigat ridendo mores. Ou seja, o riso corrige os costumes.
Contudo, é o trabalho que, ao cabo, paga a conta: e não como rir só do Fauzy de conta...