Sentido de ser

Acontece de uma maneira tão espontânea que mais parece uma efemeridade, mas desestabiliza. Talvez poucas pessoas entendam, mas na realidade o entendimento dos demais é algo desnecessário, pois os protagonistas dessa história são apenas dois e estes estão cientes. Perguntas extravagantes com uma certa ignorância eu tento relevar, já que a sociedade prega o total oposto de uma possível escolha minha.

Acredito que o pior erro do ser humano é deixar o medo lhe dominar a ponto de deixá-lo estático. É melhor arriscar-se em busca de uma plena realização do que se arrepender por nunca ter enfrentado suas possíveis limitações. Sei que ser livre não é fazer tudo o que se quer e tem vontade, mas é ter o discernimento e coragem de dizer não. Tudo se pode, mas nem tudo convém.

A vocação é algo tão íntimo que até mesmo o próprio interior do ser desconhece tal intimidade. Se as pessoas entendessem que se tornam escravas de suas próprias escolhas seriam mais sensatas, pois quem escolhe uma direção por status, por dinheiro, por medo, por influência e por tantas outras coisas dissipa sua essência ao nada. Por outro lado, quem segue a direção certa pode sofrer tamanhas vicissitudes, mas a certeza de está seguindo para além de si mesmo é compensadora.

Existem os que sabem o que desejam ser desde o primeiro momento, existem aqueles que se descobrem no caminho e também existe o duvidoso- o que é algo comum-, já que a vida é enigmática ao extremo. Nesse caso, eu me encaixo na terceira e última opção.

Entendo que viver em uma sociedade onde o Divino está tão apagado no coração das pessoas não é tarefa simples e, principalmente, que querer segui-lo como eu quero é de causar estranheza nas pessoas. Já ouvi dizer que ir para um convento seria desperdiçar a juventude, que seria viver presa conscientemente, que seria larga-se a pobreza, que seria loucura. Talvez seja, talvez não.

Ser chamada é sentir o peito arder sem nenhum vestígio de fumaça, é seguir a loucura mais sadia já existente. Muitas vezes olho para o altar e me vejo conversando, falando do meu Deus. Parece sonho! Mas sei que pode ser realidade. Vejo os religiosos e penso na tamanha coragem e entrega, e sinto algo dentro de mim clamar pelo mesmo. Às vezes me sinto indigna e incapaz de tal responsabilidade, já que a timidez não me deixa agir com naturalidade em público; sinto-me indigna pela pequenez de meu ser, tão falho, tão inexperiente.

Quem dera o mundo conseguir compreender para me explicar, já que nem eu consigo entender. No meio de tanto barulho só tenho uma única certeza: sigo em direção ao infinito, e antes de mim milhões já seguiram e continuam seguindo. As pessoas, a sociedade e o mundo que me perdoem, mas o amor que meu Amado tem por mim já me torna forte o suficiente para ultrapassar a minha própria inconsistência. Eu sou meus próprios limites, e agora digo que não há mais nenhum.

Pai amoroso, seja sempre o meu sentido de ser!

Andresa de Oliveira
Enviado por Andresa de Oliveira em 22/12/2017
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