REMINISCÊNCIAS ii

Fazia uns três anos que morava em Lins e trabalhava em Promissão. Viajar todos os dias –na época havia expediente nos sábados até às 12 h – estava cansando. Pedia transferência e nada de sair. Um dia fui inclusive até o Rio, sede do banco. Falando com o encarregado, perguntou-me quantas horas gastava na viagem. – Uns quarenta minutos, respondi-lhe. –Eu moro em Niterói. Gasto quase duas horas e não reclamo. Voltei sem a transferência.

Certo dia encontrei colega lotado em Lins. Contando o caso, disse-me que havia solução. Colega de Lins estava querendo ir para Prudente e de Prudente para Penápolis. Como Penápolis e Promissão são bem próximas, talvez topasse fazer uma tríplice transferência.

Assim, fizemos o requerimento e fomos até Prudente acolher a assinatura do colega de lá. Promissão estava sem subgerente há bom tempo. Naquele dia chegou boato que um tal de Cruvinhel tinha sido nomeado, com fama de bravo. Chegando em Prudente, o colega de lá já sabia da história e não quis assinar. Saímos e fomos dar uma volta pela cidade. Paramos e o colega disse: -Não vamos deixar assim. Vamos voltar e encostar o colega na parede. E conseguimos a assinatura na marra. E a nossa transferência saiu. O de Lins conseguiu ir logo para o destino. O meu dependia da chegada do colega de Prudente. Numa sexta soube que o novo subgerente iria tomar posse na segunda. Não perdi tempo. Cheguei para o colega que estava substituindo o subgerente e menti: -Já conversei com o gerente e ele autorizou que eu vá embora hoje. Até já fiz o memorando de apresentação para a agência de Lins. E ele assinou. Cheguei com o memorando na sala do gerente e também menti: - O subgerente concordou em desligar-me, hoje. Até já assinou o memorando.

Assim ,com duas pequenas mentiras, cheguei em Lins em 1970. Em 1978 fui nomeado advogado para Três Lagoas e daí comecei minha andança pelo país até aposentar-me para cursar Jornalismo na UNESP –Bauru, isto em 1989.