FALANDO DOS OUTROS
Como é bom escrever coisas que vem do pensamento.
Escrever em forma de arte aquilo que queremos dizer.
Eu chamo isso de dom, de leveza, de sutileza, de delicadeza.
E mais do que tudo isso; eu chamo de terapia a arte de escrever.
Às vezes são aspirações ingênuas, bem leves,
Às vezes são aspirações filosóficas, teológicas, morais e até sociais.
E em todas elas, há o retrato de quem as escreve.
Uns fazem em rimas e versos,
Outros fazem canções rimadas, ou não.
Outros ficam pensando em escrever, mas falta o dom.
Outros escrevem sem ficar pensando, há presença do dom.
Alguns fazem versos e estrofes que se tornam imortais.
São trovas e versos como as de Floriano Peixoto em seu apogeu:
“Tem uma flor no princípio
o nome do Marechal.
Mas o nome do Almirante
principia muito mal”.
Outros são filósofos, são cheios de preciosidades.
São versos bonitos que saiu um dia de um coração.
São pensamentos fortes, simples e sem ilusão.
É um Salomé de Queiroga, dos nos de 1810:
“Com três médicos que tenho
Meléstia alguma me inquieta.
Com eles sempre me avenho:
água, exercício e dieta.”
Há aqueles que de um jeito ou de outro alegraram no passado.
Homens que sempre quiseram fazer os semelhantes mais felizes.
São rimas e versos cômicos, bem humorados.
Esses sempre existiram e sempre foram obras de arte.
Olha esse: “Morreu depois de uma sova
E como não tinha campa,
De uma orelha fez a cova,
De outra orelha fez a tampa.”
Há também aqueles que são beatos, acham que tem que falar de Deus.
Caso contrário, não é poesia santa, mas força da subversão.
E aí surgem os artistas que se dizem ter fé.
Eu acredito que tenham mesmo, como este:
“Deus criou este mundo na harmonia,
tudo fez, por bondade, o Criador;
os seres anunciam, cada dia,
toda Glória de Deus, Nosso Senhor.”
Há os românticos que vivem nadando de braçada nos versos e prosas.
Vivem inventando cenas de amor que nem eles viveram.
Qualquer palavra, qualquer chuva, qualquer pôr do sol,
São motivos para falar do amor, seja bem ou mal.
E todos eles resumem-se com alguém ou sozinhos.
Escrever também é falar dos outros que escrevem.
Não é mesmo?
É isso aí!