Venda perdida por causa de um "tiquinho" de merda
Um mineirinho, assim como eu, entrou em um restaurante internacional no Rio de Janeiro, sentou-se à beira de uma mesa e solicitou a vinda de uma garçonete que o observava chegar ao local.
De frente para ele, de pé ao seu redor e segurando um bloco de anotações, a garçonete, depois de cumprimentá-lo, se preparou para anotar o pedido do velho com aparência de caipira. Disse ela, em tom perguntativo, "o que vai querer, senhor". Ao que ele solicitou que ela lhe descrevesse o que o estabelecimento servia. Ela prestou a informação e disse que poderia demorar um pouco alguns comestíveis, pois, teriam que ser preparados ainda.
Ao obter a resposta, o mineirinho exclamou: "de cada coisa vou querer um tiquin só". Ela não compreendeu o termo e replicou: "perdão, senhor, não compreendi". Perguntando em seguida o que viria a ser "tiquinho". O diminutivo melhor empregado foi ela que corrigiu.
Ele, por sua vez, demonstrando um semblante irritado por não ter sido compreendido disse a ela: "Tiquin, minha filha, é o mesmo que cadim, tá". E ainda voltou a ordenar: "traz pra mim só um cadim do que tem aqui". Mas, ainda assim, a moça não conseguiu decifrar o termo.
Para não parecer inconveniente, a mulher tirou do bolso de trás de sua calça jeans o smartphone e rapidamente acessou o site do Google Translate. Digitou na interface de tradução o termo tal qual o homem o usou, "tiquin". Escolheu o idioma a ser traduzido o termo e esbarrou no problema da configuração da língua inicial. Pensou ela que só poderia ser Português a que o homem usava, mas, o site-aplicativo não tinha a opção de dialetos dentro de um idioma.
Correu ela, então, para o outro serviço da Google, o site de busca. Ele ainda era imperioso para encontrar qualquer coisa. E na caixa de busca, as seis letras do termo que ela buscava significado foram parar.
Como a maioria de nós é apressada ao buscar informação e acha que o primeiro item de uma lista de respostas do Google é o mais evidente, a garçonete, por causa disso, entrou em pânico ao saber que Tiquin era o nome de um homicida que se envolvera no assassinato de uma atriz na Capital mineira. Por certo o homem teria obtido a informação de que ele pudesse ser encontrado naquele restaurante.
Seu julgamento, tão apressado quanto sua forma de fazer pesquisa em radar de busca na internet, traçou o homem como um pistoleiro que talvez estivesse atrás do tal Tiquin. Pistoleiro porque o velho em nada lembrava um policial. Deduzindo, ela, depois, que quem vai atrás de assassino tem que ser pior do que ele.
Nisso o velho assistiu a medrosa tremer que nem vara verde e a expelir fezes que chegavam a passar pela barra de uma das pernas da calça jeans que ela vestia. Além de sentir o cheiro da maresia que tomou conta do espaço. O que o fez levantar dizendo:
"Ora, eu queria um tiquin de cada coisa, já não quero mais. Isso que cê tá me servindo eu não quero é nada. Nem assim, feito na hora."
E foi ele parar em um estabelecimento nacional mesmo, onde conseguiu encontrar um belo prato, servido a la carte, de frango com quiabo.