HELGA MEL CARAMELO, UMA CACHORRINHA.
Uma das características de nossa época é o papel que os cães passaram a ter em nossas vidas, devido ao amor sem interesse algum que nos dedicam. Essa é a história de uma cachorrinha, nossa cachorrinha Bêbê.
HELGA MEL CARAMELO
Em outubro de 2001, fui buscar meu filho Felippe na saída da escola. Ele me aguardava do outro lado da rua sentado na porta de uma loja. Segurava uma caixa de sapatos na mão. Dentro, uma bolinha de pelos levemente marrons, da cor de caramelo. Era uma cachorrinha poodle, com 15 dias de nascida. Linda. Era filha da cachorra que pertencia à cabeleireira de minha esposa. A cadela, grávida, sentava sob a cadeira da Vera e permanecia lá até minha mulher ser atendida. A dona do salão notou esse comportamento do animal e prometeu que um dos filhotes seria dado à nossa família. Isso atendia aos pedidos do nosso filho Felippe, que há tempos queria um cachorro. Felippe batizou-a de Helga Mel Caramelo. Helga, personagem inspirada na pintora mexicana Frida Kahlo do desenho animado ARNOLD, que Felippe, então com 10 anos, assistia muito. Mel Caramelo devido à cor de sua pelagem. Para os íntimos simplesmente Mel. Começava a convivência com um ser em nossa casa que participou ativamente de tudo o que acontecia, sem nunca se omitir. Era muito nova e a gente preparava papinha para sua alimentação. Para Vera, que nunca havia convivido com um animal em casa, era uma experiência inédita. Ela se afeiçoou ao novo ente da família e criou com ela uma espécie de simbiose.
Coisas acontecem que é melhor não procurar entender. Como a personagem do desenho, de Frida Kahlo e da Vera, Mel desenvolveu uma personalidade marcante. Ao menor som começava a latir e, como um alarme, avisava entradas e saídas de nossa casa. De imediato apaixonou-se por um sofá e ficava embaixo do mesmo sempre que podia. Quando ninguém estava em casa, ela subia no encosto e montava a cavalo, parecendo uma galinha no poleiro. Manifestava sua simpatia ou antipatia logo na primeira visita a nossa casa. Se era do seu agrado, cheirava a pessoa, abanava o rabo, como a dizer que podia entrar. Se não gostava, latia até algum de nós mandarmos parar. E mesmo assim não tirava os olhos da pessoa até sua saída. Simpatizava-se com a visita, demonstrava logo se aconchegando e, muitas vezes, dando uma pequena lambida. Uma figura. Eu não havia convivido com um cachorro poodle, me impressionei com a inteligência da Mel. Entendia tudo que a gente falava, a palavra “banho” fazia com que ela se escondesse, mas “passear” provocava abanos de rabo sem fim. Prestava atenção em toda a movimentação da casa. Uma das frases do livro Pequeno Príncipe: “Se você promete chegar às quatro horas, as três eu começo a ser feliz.”, se materializava na Mel. De repente, Mel se agitava, corria para a porta e a arranhava, o rabo parecia um ventilador. Alguns minutos depois alguém da nossa família entrava e Mel agia como se falasse: “-Não avisei?” Desenvolveu um pequeno tumor de mama quando era nova, extraído em uma cirurgia e nunca mais adoeceu.
Com a Nete, nossa colaboradora, manteve uma contínua relação de amor e ódio. Davam-se bem, mas a moça não podia limpar ou aspirar ao sofá, o que provocava latidos e rosnados ameaçadores. Demonstrou preferências com alguns outros cachorros e eu lembro bem de dois: um preto enorme e depois um boxer branco chamado Oto, de uma vizinha, que o abano de rabo era frenético. Brinquedos e bolas faziam com que a Mel se ocupasse a maioria do tempo. Do nada um bonequinho ou uma bola passava raspando a cabeça de uma visita após ser chocalhada por Mel.
Foi a alegria de nossa casa por 16 anos. Depois de dois anos cegas, desenvolveu problemas motores que provocavam gemidos intermináveis. Cuidamos e fizemos o necessário. Mas a Mel nos deixou, junto com um grande vazio. Onde estiver Mel, estará nossa saudade.
Paulo Miorim 19/12/2017