NADANDO EM SANTOS, VIAJANDO AO RIO
Tenho muita estória para contar. Passagens da vida que ficam em minhas lembranças e tomo a liberdade de publicar. Abraço a todos.
NADANDO EM SANTOS, VIAJANDO AO RIO.
Em começos de 1963, o Tumiarú despediu nosso técnico Duda, o José Eli, se não me falha a memória. Em solidariedade, eu escrevi uma carta à diretoria do clube pedindo meu desligamento do quadro de atletas. Essa carta foi lida em reunião de diretoria. Transferi-me para o Clube Internacional de Regatas, de Santos e comigo vieram outros nadadores. Já tinha amigos nesse clube e fiz uma troca vantajosa em termos esportivos. Imediatamente me integrei à equipe e fui acolhido muito bem, fiz novas amizades que perduram até hoje. Meus novos amigos eram mais ligados em músicas, viagens e treino, muito treino. Logo de cara cumprimos uma programação de nadar 500 quilômetros em três meses, o que dava uma média de 8.000 metros por dia. Essa ideia do Adalberto Mariani contribuiu para melhora geral dos resultados da equipe. As novas amizades foram se solidificando e em poucos meses parecia que sempre havia nadado pelo Inter. Á parte da natação, éramos uma grande turma de amigos, nadadores e outros que a gente chamava carinhosamente de agregados, mas que participavam de nossa vida extra piscina. Eram pessoas de várias classes sociais e profissionais, muitos ex-nadadores.
Eu, Binga, Luís Sérgio e Getúlio fomos passar uns dias no Rio de Janeiro. A finalidade: curtir a Cidade Maravilhosa, pegar uma praia e passear bastante. O Binga (Antonio Januzzi) era químico da Petrobrás e tinha um Volkwswagen 1961 , Getúlio era conferente no Porto de Santos ( hoje delegado) e possuía um SP2, o carro esporte mais cobiçado da época . Eu e Luís Sérgio, nadadores simplesmente, ou seja, dois duros. À noite falei para o meu pai que precisava o equivalente a uns duzentos reais para ir ao Rio com amigos. Ele me deu o que seria hoje trinta. Binga me apanhou às cinco da manhã na frente do Restaurante Gaúdio, em São Vicente. De cara falei que não iria devido não ter dinheiro suficiente. Binga falou para não me preocupar pois ele me emprestaria o que precisasse. Embarquei e seguimos viagem. Estava combinado de encontrarmos Getúlio e Luís Sérgio em Caraguatatuba. A Via Dutra não estava com sua duplicação pronta e era muito mais perigosa que hoje. Chegados a São José dos Campos, pegamos a Rodovia dos Tamoios, que nem tinha esse nome oficialmente e era uma interminável sucessão de curvas. Encontramos Getúlio e Luís Sérgio, almoçamos em um restaurante de Caraguatatuba a beira mar. De volta à Via Dutra, finalmente seguimos em direção ao Rio. À noite, bastante cansados e em plena Copacabana, arrumamos hospedagem no hotel Martinique, hoje Windsor Martinique, na rua Sá Ferreira, posto 6. Eu já estava sem dinheiro. Dormi a primeira noite no hotel patrocinado pelo Binga e dia seguinte fui para o apartamento do meu tio Leonel, no Flamengo. Foram quatro ou cinco dias inesquecíveis. A gente passeava, fazia refeições em “fast foods” . A Barra da Tijuca era longe da cidade, quase deserta. Fomos almoçar em um restaurante especializado em frango, a convite do Binga e do Getúlio. O estacionamento era coberto de pedrisco. Comemos e bebemos muito, frango era prato de luxo. Ao sair, Getúlio partiu cantando pneus, o que encheu o salão de pedriscos e pó. Eu e Binga saímos depois e encontramos o carro do Getúlio encima de um barranco ao lado de estrada. Nos assustamos pensando que era um acidente. Paramos e encontramos os dois dando muita risada fingindo estarem desmaiados. Era só gozação.
Em 1965 eu e Binga voltamos a viajar para o Rio. Dessa vez o carro era um Aero Willys, muito mais confortável que o Volks e conosco foi um primo do Binga, meio gordinho. Ficamos um apartamento em Copacabana, em um prédio tipo “joga a chave”, como eram chamados os edifícios habitados por pessoas com atividades não ortodoxas. Bom, nos instalamos e fomos para a night . O gordinho ficou vendo televisão sentado no sofá da sala. Lá pelas duas da manhã chegamos ao apartamento e o primo do Binga havia acionado o trinco e não havia jeito de abrir a porta. Começamos a bater forte na porta. Olhando pela fechadura, víamos o cara dormindo e roncando alto. Fizemos tanto barulho que um vizinho saiu à porta teve um chilique, reclamando. Para resolver o problema, enfiei o pé na porta, o que quebrou a guarnição e escancarou a porta. Entramos, fomos dormir e o gordinho não acordou! Todas as noites era um suplício achar uma vaga para estacionar o carro. Na sexta feira de madrugada a rua do prédio estava deserta. Binga estacionou bem em frente ao prédio. Dia seguinte, o carro estava no meio da rua em plena feira livre de Copacabana. Foi um custo sair dali. Essas passagens da vida são inesquecíveis e sempre que encontro esses amigos relembramos as aventuras.Exceto o Luíz Sérgio que nos deixou há tempos.
Paulo Miorim 19/12/2017