Que saudades dela!
Eu sempre senti falta dos seus conselhos dos seus carinhos e principalmente da frase: "Calma, vai dar tudo certo"!
Ela ainda estava aqui e eu já sentia falta das palavras dela. Meu médico dizia que era egoísmo meu. Mas eu sentia falta de verdade. Ela já estava com 87 anos, estava cega e por conta disto ficou senil. Foi definhando e esquecendo todo o presente para em troca lembrar com clareza fatos antigos. Eu tenho uma filha autista e só podia visitá-la nos fins de semana. Por isso não raro ela não lembrava de mim
Minha voz é idêntica à voz de minha irmã responsável pelos cuidados com ela, por isso muitas vezes ela se enganava. No início eu desfazia o engano e ela ficava ali sorrindo e dizendo: "Que beijinho bom"! Depois ela realmente não lembrava. Então deixei de dizer quem eu era. Ela ficava feliz com os cuidados e carinhos. Fosse egoísmo ou não, eu quis os carinhos dela até o último minuto. Eu queria seu abraço. Mas era eu quem lhe dava carinho. Era eu que a abraçava. E eu a beijei e abracei até o último minuto que pude fazê-lo.
E a deixei ir embora sem lamentar. Sabia que ela precisava ir. Sabia que ela seria mais feliz do outro lado.
Durante os primeiros meses continuei sentindo falta dos conselhos, das palavras carinhosas.
Hoje, porém, sinto falta dela todinha. Da companhia, das risadas, do chimarrão, das conversas, da voz, dos beijos. Um dia antes dela partir, eu a beijei e ela que não falava mais, nem pedia mais nada, de olhos fechados, meio dormindo, disse: " Que beijinho bom!"
E nem sabia quem a beijava!
Hoje eu sinto muitas saudades dela! Hoje eu esconderia dela toda minha tristeza, não pediria conselhos, só iria querer ela, ouvir a voz dela, as risadas!
Que saudades da minha mãe!