Nas lembranças dos bons tempos.
Hoje acordei empinando arraia(raia ou pipa baiana ?), no quintal de casa, com os irmãos temperando a linha com vidro ralado e cola, estirada de ponta a ponta no sol, pra decepar as arraias vindas do bairro da Fazenda Garcia, ou mesmo da vizinhança do Tororó, bairro onde eu morei quando garota. Nisso eles eram craque. Enquanto as deles voavam céu a fora, a minha arraia voava baixo, mal passava do telhado de casa. Eu não gostava da linha temperada porque feriam os dedos. Na verdade eu gostava mais era de empinar arraia-periquito, feito com a folha de caderno. Uma arraia que não voava bastante alto era porque o dono tinha medo da pegada do outro. E o outro mais esperto gritava bem alto: "afrouxa se tem coragem, deixa de galinhagem". Confesso que nunca entendi o porquê da galinhagem. E quem voava baixo corria o risco também da arraia ser alçada com o "barandão" ( pedra amarrada no cordão) do outro vizinho, do quintal mais próximo. Como nosso quintal do Sobrado ficava num nível mais alto, os outros corriam mais risco de barandão, que os meninos de minha casa. Tinha uma arraia que desafiava mais que todas as outras, a chamada Cação, (?), era bem maior que as outras, muitas vezes confeccionada em casa. Caçar esse Cação era uma glória. A pegada era disputada, só quem tinha jogo de braço e cintura podia se arriscar. Eles davam linha o bastante, afrouxavam, porque tinham coragem. E o melhor não era decepar, era mesmo pegar com a linha e puxar, e haja braço pra isso. Claro que vencia o mais forte, como manda a natureza.
Tenho lembranças de muitas histórias relacionadas com este esporte, mas a que mais me marcou foi a de um tio meu cortando todos os galhos de uma goiabeira maravilhosa porque sua arraia tinha se embaraçado nela.
Recado - A brincadeira era mais de menino que de menina, mas nem por isso eu me sentia menino.