ADEUS AO REI DO TELHADO

Encontrei-o triste, magrinho, sujinho, remelento, sentadinho junto a uma porta fechada, numa calçada da avenida Grande Circular. Devia ter um mês de idade. Peguei-o e o trouxe para casa. Vermifuguei, tratei-lhe uma diarreia e ele se refez rapidamente. Cresceu um gato bonito, com pelo pretíssimo, lustroso! Por dois anos, seis meses e dez dias, conviveu conosco. Era o rei do telhado, onde gostava de estar. Quando sentia fome e sede, descia, miando forte! Comia, bebia, usava a caixa de areia... Às vezes, subia de volta ao telhado, às vezes deitava em algum lugar da lavanderia e dormia a tarde inteira. Neste último sábado, senti sua falta. Mas, como ele costumava se ausentar por um ou dois dias, atrás das gatinhas (sua ausência mais longa fora três dias e meio, no ano passado), pensei que ele voltaria de um momento para outro. Hoje pela manhã, entretanto, encontrei-o morto, do outro lado da rua, quase em frente à minha casa, junto ao muro da escola. Parece que foi atropelamento. Vamos sentir falta do pretinho, da sua presença fofa, do seu miado forte, que quebrava o silêncio, espantando a solidão das madrugadas.

José Luiz Barbosa de Oliveira
Enviado por José Luiz Barbosa de Oliveira em 18/12/2017
Reeditado em 19/12/2017
Código do texto: T6202427
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