FELIZ ANO NOVO
Lama, barro, detritos!
Um homem foi levado pela enxurrada.
Mulheres e crianças, com frio e com fome,
apinhavam-se desesperadas no pátio de uma escola.
A tiazinha aposentada,
que nas conversas de portão
reclamava sempre não ter nada na vida,
chorava, agora, por ter perdido tudo.
A chuva que caiu durante toda a noite
trouxe consigo todo tipo de destruição e desgraça.
---Chuva maldita, gritou uma senhora
com as palavras sujas de lama
---Deus não existe!
---Deus não existe!
Bradava enfurecida uma pobre mulher
com uma criança no colo que,
assim como a chuva,
não se aquietava um só segundo.
Do outro lado da comunidade,
protegendo-se da chuva
debaixo de uma marquise,
um senhorzinho de cabelos desalinhados e
com um sorriso enorme de felicidade
estampado no rosto, contava as férias do dia.
Havia vendido todos os seus guarda-chuvas.
Enfiou o dinheiro no bolso,
fez o sinal da cruz e
agradeceu a Deus pela benção divina
de toda aquela chuva, que persistia
incansavelmente em lavar o mundo
de sua podridão, naquele domingo
manso e preguiçoso de dezembro
que anunciava a chegada
bêbada e esperançosa
de mais um Feliz Ano Novo.