Primeiros Passos

Eu não conseguia mais ver minha vida sem você. Aparentemente eu ja havia conquistado tudo aquilo que julgava ser necessário pra ter uma vida completa. Mas, aos 20 e poucos anos, a ingenuidade de adolescente aparece de vez em quando. Durante a semana, as mensagens e ligações de “bom dia”, “como foi seu trabalho hoje?” e “boa noite” eram quase que um combustível pra seguir em frente. Infelizmente, com o passar do tempo foi tornando-se meio difícil de ser digerido. Ligações foram transformando-se em mensagens e mensagens foram transformando-se em falsas obrigações.

Eu ainda tenho guardadas no guarda roupa as primeiras cartas de amor que trocamos e sempre que alguma coisa não ia bem eu as resgatava, passava os olhos pelas linhas e me esforçava pra acreditar que aquela morena maravilhosa que me deixava tonto ainda estava ali em algum lugar ao mesmo tempo que uma mistura de sensações tomavam conta de mim. Felicidade por ter a oportunidade daquilo, amargura por ver naquilo um reflexo dos anos, a nostalgia de estar ao seu lado na transição moleque-homem, a duvida e a incerteza de seguir em frente ou não.

Talvez agora eu tenha certeza.

Talvez mesmo. Nunca gostei de dar certeza de nada - e como você reclamava disso. Coloque-se no meu lugar: não dar certeza me dá mais liberdade de ação.

As mensagens, que sempre foram um importante elo entre os nossos dias desconexos de repente viraram vilãs daquilo que pra mim foi (e ainda tinha potencial pra ser) uma das mais lindas histórias em que eu poderia ser personagem. Pelo menos aprendi que conversa de bar precisa ser falada em bar e que mulheres quando estão com raiva só fazem merda.

O tempo, que outrora foi um importante aliado, tornou-se um inimigo.

Ainda estou tentando entender o que aconteceu conosco, com as nossas cabeças e tentando descobrir aonde foram parar tantas promessas e objetivos em comum que tínhamos.

Conta conjunta pra guardar dinheiro pras férias (quando tivéssemos dinheiro), dividir um flat na capital, juntar os trapos, parcelar uma viagem pro nordeste em 12x, tirar foto de comida cara quando caia o VR, e também do pão com presunto e maionese e coca cola retornável do final de mês, oficializar uma união duradoura (aka casar), ter filhos...

Enfim, se alguma coisa não mudou nos últimos 4 anos foi nosso senso de companheirismo. Tendo grana ou não, tendo disposição ou não, já sabíamos que a companhia do outro era fundamental nos finais de semana. Pra repor as energias, deitar, se pegar e colocar o papo em dia de verdade.

Uma moça de ouro.

Linda, companheira, inteligente, gostosa, parceira, descolada e ao mesmo tempo enérgica, indecisa, falastrona e impulsiva. Tudo que eu sempre quis numa mesma pessoa. (Afinal de contas, se não for louca não tem graça) - Leve na brincadeira...

Mas agora, pensando bem, uma coisa você nunca pode me dar: um bom motivo.

Antes pra partir. Depois pra tentar. Agora pra ficar.

E, em 4 anos de parceria, o ideal era estarmos juntos pra tudo, certo?

E você jamais se preocupou em me dar. Talvez tenha sido o cansaço. Talvez tenha sido o fato de não ter motivo. Não sei e acho que nunca saberei. A vontade já vai se desfazendo.

Me diga como se sentiu quando eu te abracei pela primeira vez.

E agora me diga como foi quando eu te abracei pela última vez.

Se existe diferença no sentimento, existe algo de errado.

E então, de tanto te amar, sigo a poesia e te deixo partir.

Te deixo partir simplesmente pra cumprir aquilo que te disse desde o começo de tudo: quero você feliz, comigo ou sem mim.

E, se agora ao meu lado você já não consegue mais crescer as raízes sem trincar o chão, prefiro te colocar num barquinho e esperar você sumir no meu horizonte.

O que fica pra hoje em diante é a saudade.

E se me dói te ver partir, me dói mais saber que eu fracassei naquilo que me foi designado por Deus e não consigo mais te fazer ficar.

Ganhar, perder... tanto faz. O resultado final já não importa mais. No dia de hoje prefiro contentar-me com um empate.

Na realidade a vida da gente é correria o tempo todo e não sobra muito tempo pra lamentação. Mas pode ter certeza que a partir de agora, com o tempo ocioso e com um monte de livro velho datado e assinado... eu faço questão de tirar um dia pra lamentar. Um único dia. Que seja hoje. A dor precisa ser sentida, preciso treinar minha capacidade de suportar. Acho que estou bom nisso.

Mas lamentar um pouco só, por respeito. Depois eu coloco data, assino, ponho a tampa na caneta, respiro fundo e saio pra fumar o cigarro que você tanto odiava. Mas juro que não é pra te provocar.

Enquanto eu imaginava um monte de coisa e escondia todos os tesouros o que precisavam ser escondidos, você já praticava seus próprios atos.

Ficarei feliz por você. Espero que você fique feliz por mim também. O relacionamento acaba, mas o respeito se mantém.

2018 tem tudo pra ser o ano da minha vida. É realmente uma pena que você não esteja ao meu lado para que eu possa dividir meus momentos. A primeira vitória aconteceu hoje. Mas não tem problema, você cumpriu muito bem seu papel na minha caminhada até aqui. Parabéns e obrigado.

[Alguém vai estar.]

Acredito que o mais difícil disso tudo sejam os primeiros passos, já que você não vai mais estar ali pra me dar a mão pra me ajudar a não cair.

Mas, como uma criança, [re]aprenderei a caminhar lentamente, sem pressa, sob os olhos de quem me ama, com alguns tombos e ralados, mas com muita expectativa e muita vida pela frente. E vai que numa dessa eu

encontro outra criança pra brincar...

A base continua a mesma, mudam-se os alicerces.

Sua bússola sempre apontava o norte, seja ele qual for. E de um dia seu sol me destruiu, hoje a lua me acalma, a chuva me ampara e os ventos que agora sopram outros cabelos me orientam qual direção a seguir.

Obrigado e de nada. Meu valor também sei reconhecer. Se você me ajudou a crescer, eu também fiz minha parte.

Foram 4 longos e bons anos. Não me restam reclamações, nem rancores, nem desejos, nem dores. Me sobram alguns arrependimentos, mas nada que o tempo não dê um jeito do jeito dele.

A vida é isso aí.

Hoje, definitivamente, eu estou voltando a caminhar...