Porque os nossos olhos um dia se abriram
Um choro
E aqui nós chegamos
Abrindo os olhos vimos pela primeira vez o Mundo.
Fomos protegidos com mantas, luvas, tocas e agasalhos
Cercaram-nos de sorrisos
Das carícias os beijos nos tornavam príncipes ou princesas
Palavras doces nos acordavam.
E de mingau em mingau crescemos do nosso leito para este Mundo.
Pés descalços fizeram os nossos primeiros passos.
O mundo conheceu a identidade das nossas pegadas.
Mãos livres ajudaram a equilibrar o corpo na silhueta do Pelicano.
Mas foram as gaivotas que nos mostraram como era gostoso voar.
Dedos coordenados escreveram as primeiras letras.
Espanto com o conhecimento do cérebro colocado sobre páginas vazias.
O suor escorreu corpo abaixo
Dentre os pelos nasceu a sedução.
Olhares, lindos olhares aceleraram as batidas do coração.
De afoito para mostrar a virilidade no sexo aprendeu-se
com o tempo que é com calma que delicia-se o mel mais saboroso
que escorre pelos lábios das amadas/amantes.
Os olhos viram a transformação do Mundo
E as emoções esquadrinharam todos os cantos do coração e da razão.
E revelaram que não era só uma passagem
Era também um aprendizado constante e transformador.
E acasos aconteceram
Encontros amanheceram
Dias seguiram
Rumos desmarcados.
Volta-se sempre ao início
Porque a Vida nos mostra sempre um lado e o outro lado
Como a nos escarnecer pela decisão tomada.
O começo e o fim, indefinidamente.
Vela-se um corpo
Os olhos fechados
O corpo protegido por belas roupas.
Cercado de um rio de lágrimas
Correntes de carícias e de beijos
As palavras doces não nos acordam mais
Desfaz-se a presença para sempre.
Deixamos as nossas vozes sussurradas ao vento,
As nossas imagens marcadas nas lembranças.
As nossas opiniões mais marcantes são lembradas.
O nosso perfume espalhado nos ambientes esvai-se aos poucos.
O bem que fizemos não será mais esquecido
Será levado ao Futuro pelos nossos rebentos
Colocado de coração em coração se perpetuará
E sabemos então, porque os nossos olhos um dia se abriram ao mundo.