O HUMOR... ANTES & DEPOIS DE MILLÔR !
O HUMOR... ANTES & DEPOIS DE MILLÔR !
"Nunca se mente tanto como antes das
eleições, durante a guerra e após a caçada."
OTHO VON BISMARK
"A melhor hora para arrepender-se
é antes de cometer o êrro."
(autor não identificado)
Recente "palpite" meu sobre um livro -- lido (e esquecido) há 40 anos atrás -- me dá ensejo para mais palpites, agora sim opiniões pouco abalizadas sobre escritores, suas obras e tempos que não conheci / vivi. Longe de mim contestar a qualidade de Millôr Fernandes, sua habilidade para transformar em humor (texto e/ou traço) o que vê, ouve, lê ou leu, mas "discuto" somente que este tipo de humor já estava em ditos espontâneos de um W. Churchill ou G. Bernard Shaw, em frases soltas de um Mark Twain ou no dia-a-dia de todos nós, meu irmão gêmeo Renato principalmente, com seus trocadilhos (ou "trocadalhos") infames.
Quem viveu a austera e cinzenta era dos anos 50/60 no Brasil -- no interior, acima de tudo -- vai relembrar "adaptações" populares de chistes famosos, como o dito irritadiço destinado a algum impertinente: "você não é mais burro por falta de espaço", "pra burro só lhe falta o rabo" ou, ainda, "não te chamo de asno para não ofender os burros".
Na África dos 1500, a Rainha N'ZINGA N'BANDI confabulava com os portugueses, para permitir que as tropas galegas passassem pelas terras da tribo que governava. Numa das reuniões, providenciaram poltronas para todos os nobres, exceto ela, em pé com toda sua majestade ferida, diante dos marmanjos barbados. A um sinal seu, 2 guerreiros puseram-se "de quatro" e a Rainha -- num lampejo milloriano -- sentou-se sobre a "cadeira" humana improvisada. Quem vê hoje uma charge igual não imagina que "nasceu" de um fato real. Conheci o trabalho de Millôr Fernandes creio que bem antes de ser leitor de 'O Pasquim" (1970/71 ?), nos seus dias iniciais. Me parece que o caricaturista, humorista e chargista já "fechava" velhas edições da Manchete ou do Cruzeiro e, adiante, as da revista VEJA (ou seria da ISTOÉ ?) com uma "espécie de HQ" colorida de 1 página só.
Quem teve a oportunidade de conhecer revistas muito antigas como "O MALHO" e a "CARETA" (1910/1940) vai reconhecer nelas "as origens" do trabalho do Millôr. Na "Careta" pontificou soberano J.CARLOS, traço cômico expressivo, que Juarez Machado e Miguel Paiva "retomariam" 50 ANOS depois. Em obras literárias, charges e HQs destacaram-se Calixto e Belmonte e Angeli "mamou nas águas" de um certo Nico Rosso, é só conferir. (Mais um palpite !) Mexendo com Moda, Daniel Más tinha ilustrações excelentes e um tal ALBERY "faturou alto" retratando quase como caricaturas "dondocas" do JETSET carioca e paulista.
O chargista do inigualável (na minha opinião) "O Amigo da Onça" -- Carlos Estevão ?! -- tinha traço e texto que Millôr assinaria, sem constrangimento nenhum. Estaria eu afirmando que Millôr "copia" alguém ?! De modo algum ! Nossa "natureza", influências, costumes e "governantes" induzem os inclinados ao Humor a idêntico fim, embora com traços diferenciados. Nada mais "oposto" que Angeli e Millôr, por exemplo (falo do traço, cacilda !), no entanto a mensagem de ambos os aproxima. Aparício Torelli, o "Barão de Itararé", seria o Millôr de sua época, Mário Quintana do "eu passarinho" poderia ser o "alter ego" do genial autor em tempos modernos e, quem sabe, Luís Fernando Veríssimo -- até porque Carlos Eduardo Novaes, que levava jeito, "pendurou as chuteiras" -- venha a ser o substituto natural (ou parcial) de Millôr.
Na obscuridade, um trovador excelente mas pouco conhecido, tanto como poeta ou enquanto escritor: ENO TEODORO WANKE ! Não desenhava (até onde sei !) mas produziu um livreto só de frases criativas, as aquais denominava "CLECS", se não me falha a memória. Infelizmente, não me ficou na lembrança 1 só delas... mas ao longo dos séculos filósofos e pensadores produziram "pérolas do humor", como essa do Oscar Wilde: "A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre". Há reflexões que são "charges" por si só, dispensam desenho, como por exemplo... "as mulheres serviram todos esses séculos como espelhos, possuindo o poder de refletir a figura do homem 2 vezes maior que seu tamanho natural". Como tudo na vida depende de interpretação, "palpitarei" eu que esta bela máxima de Virgínia Wolf tem duplo sentido: tanto é elogio às mudanças que a mulher (nem todas !) provoca no seu parceiro, como pode ser acre sarcasmo.
E onde entra NELSON RODRIGUES nessa estória ?! Pela "janela" eu acho, com sua coluna num jornal carioca dos anos 70 sobre o imponderável "Sobrenatural de Almeida" ! Esse personagem do grande dramaturgo tem o DNA do Millôr... e que ninguém me desminta ! Em Belém temos um "Millôr ao tacacá", o escritor Raymundo Mário Sobral, vulgo "Comendador". Diria que é melhor em seus livretos "Chá de Cadeira" -- se é que ainda existem -- mas o que sai todos os dias no jornal "Diário do Pará" já o deixa bem próximo do famoso cartunista.
Como eu disse, são PALPITES e, como tal, permitem discordâncias. A grande vantagem é que 1) não precisam e nem devem ser exatos, e 2) quem os fala não é obrigado a mudar sua visão. Dito isto, vamos aos livros, que são alimento da alma, antes de "alimentarem" discussões idiotas.
"NATO" AZEVEDO (em 9-10/dez. 2017)
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OBS: para isso serve a Internet... para apreciarmos o talento magnífico de J.CARLOS em tempos idos. Acessem "desenhos antigos de JCARLOS". Consultem:
https://ims.com.br/exposicao/j-carlos-originais/
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