Guimarães, portugal

Sempre que venho a Guimarães venho a um café e fico aqui à espera que as horas passem...

Hoje me deparo com a cena mais surrealista de todos os tempos.

Um casal entra e senta-se na minha frente, ela pede um café e ele um licor e um copo de água, após serem servidos o silêncio paira sobre eles como uma nuvem.

Em 25 minutos o diálogo do silêncio permanece, percebi que não se toleravam mais, como duas rochas, aquela conversa silenciosa, interna, às avessas continuava.

Eles discutiam no olhar e na expressão, a linguagem corporal daquela mulher aprisionada gritava por socorro, foi a maior sessão de telepatia que assisti de todos os tempos.

Meus tímpanos doíam com o bate papo côncavo e ocioso, o vácuo predominava sobre eles.

Ele a agredia com suas mãos fechadas em cima da mesa, ele a massacrava, ele vomitava para dentro de seu próprio ego tudo de ruim que dizia para ela.

Com as mãos no queixo e dona de umas garras de mais ou menos 4 centímetros, sim, "porque aquilo já havia passado da categoria unhas para garras", notei que seu olhar faminto se fixava na jugular de seu cônjuge, em pensamentos ela cravava aquelas verdadeiras facas em seu pescoço.

Entre aquele casal havia um desejo do qual ambos já haviam concretizado abstratamente que era o assassinato um do outro, eles estavam mortos, apenas não tinham consciência disso!

Morreram para a vida, para o mundo.

De repente levantam-se, ele segue na frente e ela atrás dele como se fosse a sua sombra, vi ali dois zumbis.

Vocês viveriam assim?

#vsnocotidiano

Velto Silva
Enviado por Velto Silva em 11/12/2017
Reeditado em 11/12/2017
Código do texto: T6196088
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