Crônica - Minha vida universitária
Moro relativamente perto da faculdade, o que não me força a sair muito cedo de casa. Tranquilamente, menos de vinte minutos depois de trancar o portão de fora, já estou cruzando as duas faixas de pedestres que existem em frente à instituição. Assim que termino minha breve caminhada por aquelas faixas brancas, sempre me aparece a figura de um senhorzinho que vende refrigerante no fundo de seu carro. Sempre sorridente, ele, todo santo dia, me deseja boa noite. Mesmo tendo pisado alguns minutos antes em um buraco que se abrira na calçada, o sorriso daquele homem de cabelo completamente branco me alegra e renova em mim a vontade de continuar. Aliás, sobre aquele buraco falarei depois.
Antes disso, quero falar sobre algo que descobri: soube que a palavra crônica se deriva do termo grego chronos, que significa tempo. Pois bem, foi durante o brevíssimo tempo de faculdade que percebi o verdadeiro valor do tempo. Um tempo que passa cada vez mais rápido. Surgiram exigências que cobram cada vez mais tempo e que me deixam cada vez mais sem tempo para coisas das quais antes eu gostava. Às vezes, a correria da faculdade me deixa desatento, distraído e é aqui que entra a história do buraco.
Eu estava andando calmamente na calçada de um condomínio quando, subitamente, apareceu em minha frente um buraco relativamente grande. Sem pensar, meu reflexo me fez pular por cima dele, mas, infelizmente, não foi possível concluir o salto com perfeição. Pelo jeito, meu ato inconsciente, assim como eu, conscientemente, no tempo de ensino médio (principalmente em física), não conseguiu fazer os cálculos necessários para aquilo. Dessa forma, sujei meu tênis e, com a queda, passei a sentir uma dor no calcanhar. Dali até o fim da faixa de pedestres foi só murmúrio. Pelo motivo já exposto acima, felizmente, isso mudou.
Aquela abertura no chão provocou em mim algumas reflexões válidas. O buraco foi alerta para mim naquela situação de total desatenção. Poderia até mesmo ter sido um carro vindo em minha direção e, com certeza, seria mais grave do que cair num buraco. Ademais, entendi que aquele espaço na calçada me mostrou que todo tempo eu teria dificuldades para superar, inclusive na faculdade. Todas as vezes que passar perto do lugar onde o buraco estava, terei mais atenção, assim sendo, saberei que tenho de pular as adversidades que surgirão.
A crônica (o tempo) da nossa vida passa rápido e, nela, os obstáculos nos farão querer desistir, mas, mesmo com pouco tempo de faculdade, consegui perceber que eles estão lá para que sejam derrubados ou, ao menos, para nos instigar a derrubá-los. Devemos aprender com as dificuldades, pois, como disse Edmund Burke, a dificuldade é um severo instrutor.