Papo Louco ou...
qual o sentido da vida?
Sou do Rio.
De Janeiro?
Não, daquele abaixo da linha.
Do Equador?
Não, do trem.
Que trem?
Da alegria.
Já não sei mais nada e não tenho amigos.
Espero o tiro.
Para começar a correr, cruzar a linha e vencer?
Não, o outro, que estourará os meus miolos.
Miolos? Que miolos?
Grande amigo...
Não adianta, é melhor parar de beber e pagar a conta.
Conta?
A do bar.
Que bar? Estamos na praia...
É duro ser bêbado.
Eu não estou bêbado. Você está.
Mentira, seu otário.
Aliás, qual é o seu nome?
Eu te disse, logo que te encontrei.
Esqueceu! Esqueceu o próprio nome!
Não esqueci! Não esqueci! Meu nome é... é...
Ha, ha, ha....
Paf!
Por que me bateu, seu louco?
Deu vontade.
Vai ter troco. Vuuuf...
Errou, errou o tapa. “Cê ta” tão bêbado que não consegue nem bater. Ha, ha, ha...
Pior você, que não sabe o próprio nome.
Não começa, não começa...
Ao amanhecer os garis limpavam a praia e dois corpos estendiam-se ao chão, aguardando o retorno da sobriedade, só não foram recolhidos por que não caberiam nos sacos...
(Essa crônica não teve nenhum outro propósito a não ser debruçar-se sobre si mesma, contorcer-se, tentar chegar ao fim e, lucidamente, salvar-se de uma torpeza inerente a todos nós. Qual o sentido da vida? Que vida? Ah, a vida...)