A APOSTA NA FÉ.

Cristo não erigiu nenhuma igreja, mas um princípio, o amor ao semelhante e ao seu Pai, Razão Primeira de toda a criação. Isto para seguimento da humanidade em oásis de harmonia entre os homens. Um existir sem graves conflitos.

O despojamento e desapego secundam essa máxima iniciática que trará a paz ou a discórdia.

Viver segundo suas necessidades com a oferta da natureza. Foi o que ensinou o Mestre de Nazaré. E sob o pálio do amor, nada mais. Havendo amor a humildade nele se abriga, estará presente.

Nada prometido a não ser chegar a outras espaços em meio a luz aceita na breve passagem por esse sopro de vida material na Terra, sob seu abrigo vivendo.

Toda o discurso evangélico concebido pelos evangelistas por suas convicções diante da vida do Nazareno, reportados e não testemunhados por eles, que pelos contrastes retóricos, sem agravar a essência, não formalizaram nenhuma crença, não encontram nenhum ordenamento de configurar uma crença determinada.

A católica ou qualquer outra dita cristã. É cristã a que promove o amor.

Somente a Pedro foi dito “que sobre essa pedra edificarei minha Igreja”. Qual Igreja?

Pedra, Pedro, cefas, edificarei (Eu) e não edificarás, a discussão estéril não importa. Vigora a discussão e a realidade. Quem construiu a crença foi Jesus, o princípio nunca colocado em prática, amor.

O catolicismo São Paulo edificou, um antigo e respeitado rabino, um dos mais cultos judeus convertidos, bem como Gamaliel, seu mestre.

Flechado em sua ida para Damasco, Saulo de Tarso, São Paulo, convocado por quem ele perseguia, Jesus de Nazaré, o Cristo – “Por que me persegues Saulo?” - converte-se. O mesmo Jesus por quem sofreu e foi martirizado após sua convocação histórica. São Paulo foi crucificado de cabeça para baixo por sua crença e propagação.

Um martírio que se pode viver vendo – mesmo pedindo imagem na internet - uma realidade pictórica fantástica podendo ser vista na Igreja Santa Maria Del Popolo, em Roma, em obra mestra do mágico pintor das luzes e das sombras, Cavaggio, igreja onde também Bernini compôs uma de suas maiores produções, "O Êxtase de Santa Tereza D` Àvila" - conjunto de escultura, arquitetura e arte cênica - que também foi perseguida por martírio pessoal, que se impôs, sofrendo pela fé que sentia minimizada pelas suas inclinações, vivendo sob cinto de cilício e se açoitando.

São as posturas de uma fé tenaz, exclusivas entre tantas outras, sem apostas, a fé pura e entregue, de doação invulgar.

Em contrapartida temos a fé dúbia e mercantilizada, vista nas tvs onde circula a mercancia dos boletos bancários e as comemorações de "prosperidades", não se sabe se verdadeiras, dos acúmulos materiais recebidos na roleta da fé por ignaros, sem nenhuma formação como se pode constatar, que ficam "ricos, (será?)", sequencialmente mostradas mansões, carrões, empresas ganhas pelos antes pobres aquinhoados por Cristo.É a reversão da doutrina.

Temos o martírio diário e contumaz do Cristo, a venda de seu nome do que não prometeu, as apostas da fé em troca de dinheiros como os de Judas, levadas pelas promessas de um Cristo que nunca garantiu prosperidades e riquezas materiais, bem ao contrário, pregou o despojamento e a ausência de fortuna, dividir o que se tinha, mesmo pouco fosse.

Há uma aposta mais digna do que prometer o que Cristo não prometeu, a de Voltaire que se beneficia da dúvida.

Pascal afirmava que caso exista uma vida após a morte, raciocinou o filósofo do século XVII, o fiel terá um bilhete para o paraíso e aproveitará o melhor de ambos os mundos. Se eu perdesse, escreveu Pascal, teria perdido pouco, se ganhasse teria ganho a vida eterna.

Esse limiar fronteiriço entre o crer ou não crer, nas pegadas de Shakespeare, que seria católico, em seu “não ouso crer nem descrer de nada”, faz despontar o caráter, pois o verdadeiro caráter nasce de uma fonte mais profunda do que a religião. É a concentração da interiorização dos princípios morais de uma sociedade.

Existem apostas e apostas. Não se está em um cassino.

As instituições - igrejas - precisam da fé, a fé não precisa de igrejas, muito menos de apostas por dinheiro e prosperidade. Isto não é fé, é barganha. E não é real, é engenho negocial.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 07/12/2017
Reeditado em 07/12/2017
Código do texto: T6192854
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