Quanta energia !
Não sei de onde tirava tanta energia !
Quando criança , lembro bem, o açúcar não era tão fininho quanto o de hoje, e às vezes passava pelo açucareiro e "roubava" um torrão, que deixava aos poucos derretendo na boca.
Estava sempre voando, subindo ou descendo os degraus de dois em dois, correndo como se não houvessem distâncias, apostando corrida com o vento e batendo minhas próprias marcas.
Subia e descia dos muros e das árvores como um macaquinho, até no telhado subia. Jogar bola então...se deixassem, ficaria o dia inteiro, mas haviam outras coisas divertidas também, como correr pelas ruas com uma roda e um arame de gancho, para guiá-lo, e a prática era enorme, e uma vez até , uma Kombi quase me pegou, o cara brecou na hora, e gritou a todo pulmão; " Seu moleque f.da p...!" .
Na bicicleta, era de matar a mãe do coração, e ela sempre dizia que vivia no susto constante comigo , que um dia eu a acabaria matando , rsrsss...mas sabia que eu era bom filho, mesmo não a levando tão a sério quanto deveria.
Às vezes ela estava melancólica, e precisava falar, então eu me aquietava e a ouvia com calma, por um bom tempo, ela falava da sua infância pobre e da guerra cruel, da solidão, da falta de amor, dos seus sonhos e da enorme confusão que havia sido a sua vida.
Uma vez ela me disse; " Você vai ser um bom marido !" , e lhe respondi : " Como pode saber, eu só tenho 10 anos ?"- "Porque as mães sempre sabem dessas coisas !" .
- Agora vá brincar lá fora, que tenho muito que fazer !
Como um foguete saia portão à fora, muitas vezes sem me lembrar sequer de fechá-lo, deixando um rastro de fumaça atrás de mim...