Ninguém merece

Ninguém merece passar pela horrível experiência de ser assaltado. Quem já foi roubado não deseja tal coisa nem para seu pior inimigo, porque poucas situações são tão humilhantes e amedrontadoras. Depois que vivemos isso, esperamos não viver novamente mas, do jeito que a violência e a insegurança andam crescendo, sabemos muito bem que poderá haver uma outra vez e talvez não tenhamos a mesma sorte, já que ninguém razoavelmente informado sobre nossa triste realidade ignora o que bandidos são capazes de fazer.

A gente acaba ficando sem liberdade de andar nas ruas, obriga-se a prestar atenção a todo suspeito em potencial e andar olhando para trás quando volta para casa a fim de ver se não há ninguém por perto, pois muitos ladrões se aproveitam de quem está entrando ou saindo de casa. E o pior é que sabemos que todo o cuidado do mundo não garante proteção total. Qualquer um pode ser assaltado a qualquer momento. Na hora em que um bandido nos aborda, a sensação é a pior possível. Como descrever o medo e a humilhação que sentimos quando um ou mais desses covardes vêm exigindo o que é nosso como se tivéssemos obrigação de dar, fazendo-nos as piores ameaças ou nos agredindo? A prudência manda não reagir, mas isso não garante nossas vidas e integridade física na hora pois, se eles quiserem, podem nos agredir ou matar, e irão fazê-lo com certeza quase absoluta de que não serão punidos, pois a falta de segurança nas ruas e de punições exemplares dão a eles uma sensação de onipotência para cometer crimes cruéis. Para piorar, caso não tenhamos o que querem, eles poderão se enfurecer e nos matar.

Depois do assalto, o medo dá lugar à raiva e à revolta. Sentimos raiva de nossa impotência e porque estamos à mercê de marginais que querem ter as coisas sem sacrifício e que fazem o que fazem porque se sentem à vontade para fazê-lo devido às nossas leis inadequadas. Sabemos que denunciar provavelmente não dará resultados e, se forem presos, logo estarão soltos novamente. Outro fator revoltante é que podemos afirmar quase sem medo de errar que, se não tivéssemos sobrevivido a essa horrível experiência, viraríamos estatística, um mero número a mais no índice de crimes violentos que viraram rotina no Brasil.