SOBRE TOMBOS E SE LEVANTAR NA VIDA PROFISSIONAL

Todos levam tombos na vida. Meu pai sempre dizia que aqui não é o paraíso, não dá tudo certo. Podem ser coisas muito graves ou não, fatalmente algumas mexem conosco. Aprendi uma ou outra coisa com os meus, o mais importante é que todos caem. Levantar ou ficar caído é decisão sua. Para mim, a melhor motivação para erguer-se e seguir adiante é pensar aonde quero chegar.

Lembro bem de alguns dos meus, principalmente os da vida profissional. Minha primeira matéria em dependência na faculdade, minha demissão da empresa em que trabalhei mais tempo, o monte de nãos na busca pela recolocação, os muitos concursos em que não entrei, especialmente aqueles em que fiquei por poucos pontos.

Todos eles doeram bastante. Tive sorte de levantar bem de todos eles. Entretanto, sempre tive algo a meu favor. Tenho muitos sonhos e estou o tempo todo atrás deles. Ter em mente os meus objetivos foi um fator decisivo para não ficar muito tempo caído.

Quando se busca alguma coisa, pensar aonde se quer chegar dá motivos para levantar. Porque, quaisquer que sejam os objetivos, é certo que haverá obstáculos e muito provável que haja tombos. Cair é normal, porém, enquanto se fica caído, o que se quer vai ficando mais distante, logo precisa levantar e continuar na busca para chegar lá. Ficar se lamentando só atrasa o caminho.

A vida profissional começa com decisões difíceis. Temos de escolher nossas carreiras muito jovens, normalmente entre 14 e 20 anos, nem sempre com informações suficientes. Depois, temos de escolher os cursos que precisamos para exercer a profissão. Optar pela faculdade/curso também é uma decisão difícil, há cursos caros e longos, entrar em instituições gratuitas é muito concorrido.

Pensar onde se quer chegar, e decidir de forma coerente com os objetivos é uma boa maneira de aumentar suas chances de sucesso. Não existe garantias, a vida é cheia de imprevistos e mesmo decisões corretas podem não dar certo. Todavia, ser coerente ajuda muito.

Se você quer ser médico, tem de prever que deve precisar de mais tentativas para entrar no vestibular e de apoio financeiro durante o estudo. Querer ser professor significa com alta probabilidade ter menor retorno financeiro, bem como ser artista. Quem ambicionar ser esportista, tem de saber que só os muito talentosos têm chance, só vontade não basta para o esporte de alta performance. Buscar ser servidor público exige anos de estudo para passar em concursos. Tudo tem prós e contras.

Já quem for trabalhar em empresas, tem de saber que o tipo de carreira determina sua vida. Se gosta de trabalhos técnicos, precisa se especializar e dificilmente chegará a altos cargos. Já quem ambiciona ser executivo, deve se preparar para alta competitividade, buscar maiores qualificações, ter de trabalhar muitíssimo, desenvolver habilidades políticas, ser questionado o tempo todo e viver com gente tentando pegar o seu cargo.

Toda carreira tem suas dificuldades. É fundamental saber as da sua e tomar decisões coerentes com o que se quer. Entrar numa faculdade forte vai exigir mais tempo de estudo, o que deixará menos espaço para se divertir nas baladas. Por outro lado, deve ajudar a conseguir melhores empregos e progredir no futuro. Faz sentido esse esforço? Se seu objetivo for uma carreira competitiva sim.

Se seu desejo for viver melhor hoje, ganhar sua vida e pagar as contas, se você não é tão apegado a dinheiro, nem tem como foco o lado profissional, talvez um curso técnico ou uma faculdade menos forte pode permitir viver melhor sem tanta obsessão. E não tem nada de errado com isso, é coerente com o que quer.

Falo de tudo isso porque muitas vezes fiquei na dúvida sobre minhas escolhas e como pai fico incerto para orientar meus filhos. Acho que quando se leva um tombo e se desanima, é preciso lembrar para onde leva a estrada em que você está. Se é aonde você quer chegar, é levantar e encarar os obstáculos. Se não for, é preciso repensar, e lembrar que o melhor caminho depende de onde se quer chegar.

Quando não acho solução para meus dilemas, escrevo meus pensamentos e leio os de outros. Recorri ao famoso discurso de Steve Jobs em Stanford e encontrei alguns ótimos pensamentos sobre o que escrevi. Sobre cair e levantar:
“Quando a vida jogar pedras, não se deixem abalar. Estou certo de que meu amor pelo que fazia é que me manteve ativo. É preciso encontrar aquilo que vocês amam - e isso se aplica ao trabalho tanto quanto à vida afetiva. Seu trabalho terá parte importante em sua vida, e a única maneira de sentir satisfação completa é amar o que vocês fazem. Caso ainda não tenham encontrado, continuem procurando. Não se acomodem. Como é comum nos assuntos do coração, quando encontrarem, vocês saberão. Tudo vai melhorar, com o tempo. Continuem procurando. Não se acomodem.”

Ele também falou sobre mudanças de rumo que são possíveis e às vezes necessárias: “ingenuamente escolhi uma faculdade quase tão cara quanto Stanford, e por isso todas as economias dos meus pais, que não eram ricos, foram gastas para pagar meus estudos. Passados seis meses, eu não via valor em nada do que aprendia. Não sabia o que queria fazer da minha vida e não entendia como uma faculdade poderia me ajudar quanto a isso. E lá estava eu, gastando as economias de uma vida inteira. Por isso decidi desistir, confiando em que as coisas se ajeitariam. Admito que fiquei assustado, mas em retrospecto foi uma de minhas melhores decisões. Bastou largar o curso para que eu parasse de assistir às aulas chatas e só assistisse às que me interessavam.” Ou seja, tome as melhores decisões que puder, mas lembre que é possível mudar se o caminho não está bom.

Por fim, ele fala sobre a necessidade de se questionar sobre o caminho profissional e sobre a própria vida: “Quando eu tinha 17 anos, li uma citação que dizia algo como "se você viver cada dia como se fosse o último, um dia terá razão". Isso me impressionou, e nos 33 anos transcorridos sempre me olho no espelho pela manhã e pergunto, se hoje fosse o último dia de minha vida, eu desejaria mesmo estar fazendo o que faço? E se a resposta for "não" por muitos dias consecutivos, é preciso mudar alguma coisa.”

Em conclusão, acho que é assim. Se você leva um tombo e está no caminho para onde quer chegar, levante, faz parte, aprenda com os motivos para cair menos. Se você caiu e não sabe se é o rumo certo, pense sempre no seu objetivo, e quando levantar escolha a estrada que te leva a ele.
Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 04/12/2017
Código do texto: T6189971
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