SUJEITO BOA PINTA!

Nos últimos dias do inverno de 2017, estávamos reconstruindo o muro da frente, atacado perigosamente, por uma árvore atingida pela ventania da tempestade daqueles dias.

Embora o inverno ainda estivesse vigorante, os dias não eram frios, então os movimentos com a enxada, para misturar os ingredientes da argamassa, punham-nos a suar, eu e o pedreiro.

Durante a pausa para um pequeno lanche, lá pelas 9 horas, um homem de aproximadamente 60 anos aproximou-se e cumprimentou o pedreiro, conhecido seu, cumprimento estendido a mim. De pronto tive a impressão que o conhecia, mas não de recentemente. Dei-lhe a sentença:

- Te conheço de algum lugar!

Ele espremeu os olhos, curvou-se, pois entre nós, há uns 20 Cm, de altura, em meu desfavor e retrucou:

- Será?

Putz, pus-me em apuros, como poderia ter afirmado o quue não poderia provar.

Puxei pela memória e lá veio a indagação, sobre ele ter estudado no Ginásio Padre Rambo, no bairro Partenon, em Porto Alegre. Ele desconfiado, confirmou que sim, dando-me corda à memoria. Citei o turno, a turma dele e alguns colegas e professores e ele continuou confirmando algumas informações, pondo-me em desconfiança, pois parecia concordância para agradar-me e não frustar a minha memória.

Decidi apertar-lhe e pedir detalhes, do que ele lembrava.

Dentre algumas concordâncias veio o nome da saudosa diretora professora Maria Lucy e algumas características dela, então era ele mesmo.

Diomar era um adolescente boa pinta, bom falante e andava rodeado de gurias.

Conversamos mais um pouco e ele lembrou-me que havia sentado praça na Polícia Militar, coisa já enferrujada na minha lembrança. Tínhamos sido contemporâneos no Batalhão de Ferro, de onde segui destino e ele por lá permaneceu.

Sem entrar em detalhes eles disse-me que já não era militar, fazia muito tempo, mas resistiu o detalhamento.

Penso que tenha sido um prazer mútuo o reencontro. Ele despediu-se e apontou na direção de sua casa.

Noutro dia, nos reencontramos e ele choroso perguntou-me o porquê de não ter prosseguido na carreira militar. Eu sem entender a indagação, simplesmente respondi que fora o desígnio de Deus.

Já não tão "sujeito boa pinta", Diomar hoje na dita, melhor idade, passa em trabalhos que exigem força e capricho, coisas tipo jardinagem.

Do livro: Abrindo gavetas da Memoria - 2017 - 2018

Primeira Crônica

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 03/12/2017
Reeditado em 03/12/2017
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