A CHEGADA DO INVERNO
Quando o inverno chegava a alegria tomava conta do Sítio Chã de Areia. Todo mundo se animava para o plantio. Meu pai selecionava as sementes de inhame. Os seus olhos brilhavam. Era a esperança de um ano bom, ao contrário de 1983 quando ele perdeu tudo com a seca. 84 seria diferente. Um cheiro de prosperidade pairava no ar... Mês de fevereiro e a terra já estava alagada!
Chovia o dia todo e adentrava pela noite. As cacimbas sangravam. As águas barrentas tomavam conta dos açudes. As notícias que chegavam do Pilar era de que o Rio Paraíba já estava ficando de barreira à barreira. Até o Rio Una roncava com a força da enchente!
Os homens, os passinhos, os sapos, os grilos, todos se alegravam com a chegada do inverno. E contemplando esse espetáculo da natureza, vendo a chuva cair com intensidade, formando poças d’água pelo chão do terreiro, pedíamos aos nossos pais para tomarmos banho de chuva e quando a resposta era positiva a festa estava feita! Sim, era uma verdadeira aventura! Corríamos no terreiro encharcado, cheio de lama, onde escorregávamos de propósito. Que nos importava a queda? Estava chovendo de verdade e aquele era um momento singular em nossa vida.
Logo formávamos meio time de futebol e nesse jogo molhado todos saíam vencedores do troféu da felicidade, pois no final da partida era que vinha a melhor parte: íamos para biqueira da casa’ onde nos colocávamos debaixo de uma correnteza de água cristalina, com o mesmo prazer de quem estava se banhando debaixo de uma cachoeira.
Aquele é que era um tempo bom... Infância... Cheiro de inocência no ar... Medo gripe? — nem pensar!
“A chuva fina é que gripa,
A grossa não gripa não”;
Então a gente brincava
Cantando esse refrão!
A chuva fina é que gripa,
A grossa não gripa não;
Pois quem tem medo de chuva
Não sabe dessa emoção!
Somente a chuva fininha
É que gripa no sertão;
Os pingos da chuva grossa
Lava o corpo e o coração!
Assim a gente brincava
Cantando esse refrão;
A chuva fina é que gripa,
A grossa não gripa não.
Mas nem tudo era somente festa quando o inverno chegava. Também tínhamos que ajudar nossos no roçado. Principalmente na fase do plantio, carregando pesadas cestas com sementes de inhame. E aquelas cestas como doíam em nossas mãos! Sem falar numas formigas miudinhas que mordiam nossos pés incessantemente!
Descobri desde cedo que eu não tinha a mínima vocação para a agricultura. Meu pai dizia que eu era doente de preguiça. Até meu avô pegava no meu pé.
–Toinho vá buscar outra cesta de semente para esse canto do roçado!
–Ai! ai! ai! meu avô!... Que dor na minha barriga! (E para a cena se parecer mais real eu caía no chão me contorcendo com a “dor”. E meu avô me dizia sorrindo...
–Esse menino ainda morre de preguiça!
Antonio Costta
(Pilar – PB)