O Quinto Mandamento (e as Quinhentas Mil Exceções)
Não Matarás.
Quinto Mandamento para Católicos Romanos e Luteranos, e Sexto Mandamento para as demais religiões.
Quando o quinto mandamento foi escrito, talvez não se tenha especificado tudo. "Não matarás". Mas quem não deve matar quem? Ninguém deve matar ninguém? Parece que no mundo foram abertas diversas exceções.
Talvez assim ficasse melhor explicado:
Não matarás. A não ser que a polícia não possa te prender.
Não matarás. A não ser que ninguém possa te incriminar.
Não matarás. A não ser que esteja em estado de loucura.
Não matarás. A não ser que com isso consiga muito dinheiro ou poder.
Não matarás. A não ser que sejam animais inocentes ou que mate indiretamente.
Não matarás. A não ser que ainda esteja no ventre da mãe.
Não matarás. A não ser que não seja cisgênero.
Não matarás. A não ser que seja uma mulher do mundo.
Não matarás. A não ser que lhe convenha por qualquer motivo.
Ou seja: apenas não se pode matar homens ou mulheres cisgêneros não mundanos, blá blá blá..
Se assim o mandamento tivesse sido escrito, certamente todos o respeitariam.
Mas acreditaram demais no bom-senso do ser humano. Bom-senso inexistente, aliás.
As outras mais de quatrocentas mil exceções ao quinto mandamento poderia reuni-las junto às exceções dos demais mandamentos, o que daria em rascunhos mais volumosos que a própria Bíblia. Rascunhos, pois não estariam completos, porque as exceções sempre vão aumentando até se tornarem regras.
Daqui a pouco não falaremos apenas em Dez Mandamentos, mas também em Um Milhão de Exceções. Talvez compense tratar então os Dez Mandamentos como exceções e tudo aquilo que não for explícito com todas as letras seria permitido (como já o são, autorizadas pelas leis dos homens), cabendo à criatividade do ser humano distorcer as palavras inscritas nas Tábuas da Lei entregues a Moisés.
Só Deus sabe o quanto abomino todo e qualquer deboche à vida que o Senhor criou. O quanto abomino todo o desprezo com que os seres humanos tratam cada vida que o Senhor criou e colocou sob nossa tutela, para que dos seres mais frágeis nós cuidássemos assim como o Senhor cuida de nós, mesmo sem merecermos. Só o Senhor sabe que assisto todos os dias os seres humanos difamarem e tratarem com descaso toda a criação do Senhor e o Senhor sabe como me sinto por não poder salvar todos das mãos daquele que o Senhor me deu como irmãos e irmãs. Porque deles (de nós) é a responsabilidade de cuidar. Porque roubamos a vida e o corpo dos animais para nos satisfazer, sem pedir permissão a eles. Porque Deus, através de Jesus, abominou qualquer sacrifício animal, mesmo a matança de animais de forma cruel para a alimentação. Porque, se em tempos remotos, a exploração física, mental e emocional dos animais poderia, ainda que ilogicamente, ser justificada pela necessidade (e por ser único meio) de alimentação e máquina para trabalho, hoje a tecnologia superou em muito a força animal não-humana. Deus, o Senhor sabe o quanto me entristeço quando o ser humano, que apenas age com humanidade quando quer, despreza uma criação do Senhor. O Senhor sabe que muitas vezes não consigo impedir suas criações de sofrerem, angustiarem e agonizarem, engasgados no próprio sangue. O Senhor sabe o quanto cresce minha empatia para com as vidas e espíritos frágeis. o Senhor sabe que tenho certeza de que o princípio da Vida é o correto, e é o que o Senhor escolhe para todos, e sempre. Porque o Senhor não criou nenhuma de Tuas criaturas para que sirvam ao homem através do sofrimento, da dor, da agonia e do desamparo. Porque se devemos perdoar o próximo para que o Senhor nos perdoe, como faremos para que os animais nos perdoem? Porque eles não tem pendências para com o Senhor. Eles não precisam do perdão do Senhor. Mas nós, seres humanos, precisamos. Porque toda a criação do Senhor é feita de Deus. Porque o Senhor está em cada criação. Porque quem acolhe ao necessitado, acolhe a Jesus, e, portanto, a Deus, nosso Senhor. Porque quem dá de comer ao faminto, dá de comer a um irmão de Jesus, portanto, a nosso irmão. E quem faz sofrer, agonizar, tem prazer em torturar, ou pensa ser errado e mesmo assim dá dinheiro para que o outro faça? Mesmo que fosse escrito pelas palavras de Deus que o ser humano tem o direito de impor tal agonia sobre uma criação de Deus, o que seria uma blasfêmia contra a finalidade de suas criações, a consciência não me permitiria cometer qualquer atrocidade contra Tuas criações, pois elas foram criadas pelas mesmas mãos que me criaram. Pois se os animais foram criados em louvor a Deus, pois se sua simples existência é um louvor a Deus, quem é o ser humano para tirar isso? Pois, além de deixar de fazer coisas que agradam a Deus, ainda faz coisas que desagradam. O Deus que habita no meu interior não me permitiria arrancar à força a vida de dentro de outro ser, semelhante a mim. Semelhante, pois, quando sente dor, geme. Quando se alegra, se agita. Quando tem medo, treme. Quando se sente solitário, olha com apelo. Quando está com frio, se retrai. E quando lhe estraçalham, seu espírito é induzido a sair do corpo mutilado, ainda em agonia.
Deus, se durante minha vida, para que eu continue vivendo, precise que sejam tiradas a vida de, digamos, um animal por dia, então, em um ano, serão trezentos e sessenta e cinco animais mortos para que eu viva. Só de pensar nisso já me sinto impura. Pois, assim como o Senhor mesmo demonstra, cuidando dos lírios do campo, o ser humano não necessita da dor de seres sencientes para que continue vivendo. Pois, do contrário, estaria admitindo que minha vida só é possível pela morte de diversas outras vidas. Que o Senhor não basta para que eu viva. Que viver da forma que o Senhor nos ensinou não é o bastante para que eu viva. Que o ser humano precisa constantemente suprimir a vida de dentro de outros seres para que este ser humano, tão egoísta e cheio de pecados continue vivendo para pecar mais e mais. E, enquanto essa sede de sangue e de poder (poder matar, poder torturar, poder escravizar, poder mutilar, poder explorar) ainda estiver presente nos corações dos homens, viver uma vida que não prejudique ao próximo, como o Senhor ensinou, seria um ideal cada vez mais distante.
Deus, se matar for correto, diga-me: Por que criar seres que sentem? Que sentem fisicamente, emocionalmente... O ser humano se acha tão racional e ético, e isso apenas me fazer rir do ridículo de se acharem tão bons quanto o Senhor. Pois apenas o Senhor decide quando se tornará vida, assim como apenas o Senhor decide quando encerrá-la. Mas os homens pretendem abreviar as vidas de Tua criação no momento que bem entendem.
Ainda, Senhor, por que aqueles que pregam o nome do Senhor e a Tua Justiça não enxergam mal em matar ou mandar matar animais? Porque Tua Justiça não prega que tomemos o sangue de inocentes para que nosso corpo carnal se fortaleça. Senhor, se mesmo os que se julgam mais estudiosos da Tua Palavra se julgam no direito de acabar com a Tua criação, onde poderei encontrar esperanças de que Tua criação esteja a salvo? De que Tua vida é valiosa? Pois o sopro de vida que o Senhor soprou em cada um dos animais é do Teu pulmão e não é correto que ninguém o expulse.
E não, não quero dizer que a vida dos animais é mais importante que as dos seres humanos. Ora, a eletricidade que faz uma geladeira funcionar vale mais do que a eletricidade que faz um microondas funcionar? A força tem a mesma origem. Não é a forma (geladeira ou microondas) que é mais importante, mas o princípio que faz com que eles funcionem. Da mesma forma, os espíritos são divinos, pois provêm de Deus. Não há como ter outra origem. Nossos espíritos não provém da água, que é matéria densa; nem do ar, do fogo ou da terra. Ou do éter. O espírito não têm matéria densa, mas sutil. E, antes do espírito, o Eu propriamente dito não possui qualquer quantidade de matéria ou densidade.
Senhor... os seres humanos querem sempre e a todo instante lutar para que seus "direitos" valham sobre os direitos dos frágeis, dos que não podem se defender, principalmente dos animais e fetos ameaçados pelo aborto provocado. Apenas um animal acredita agir com ética ao privar o mais frágil de se defender. E ainda se diz ser um humano. Estou procurando a parte do "humano". Apenas um animal luta com aparente orgulho de ser covarde ao se utilizar de instrumentos avançados ou improvisos para valer seu direito de mutilar o mais frágil. E eu me envergonho disso. O pior disso é que tenho empatia tanto pelas vítimas quanto pelos agressores, pois convivo com ambos. Senhor, os agressores são pessoas boas, mas elas sabem que fazem o mal e se alegram nisso. Senhor... muitas dessas pessoas estudam tudo isso que estou dizendo ao Senhor e sabem que é antiético, além das consequências espirituais destes atos, mas insistem em provocar o mal até a morte sobre o próximo. Senhor... ando em círculos, pois as pessoas que se julgam mais esclarecidas estão contra toda a criação do Senhor e ainda acreditam que podem dar lição de moral alegando que cada um tem seu tempo, sendo que elas mesmas nunca realmente tentaram parar de matar o próximo. Senhor, oro por elas... talvez elas não saibam, mas praticar a não matança é mais importante aos olhos do Senhor do que pregar palavras bonitas da boca para fora ou em palestras, enquanto, fora do palco, fazem tudo exatamente ao contrário. Talvez elas não saibam, mas estender a mão a pessoas que precisam seja mais agradável ao Senhor do que decorar textos para passar ao público e quando olhar alguém ao lado que precisa de ajuda não fazer nada.
Senhor... dê entendimento a essas pessoas e mais paciência a mim, para que não sofra tanto. E que eu possa fechar um pouco os olhos para o sofrimento alheio, pois não consigo intervir em todas as injustiças e nem salvar todos os indefesos do destino imposto pelo homem aos mais frágeis. Mas o destino que o Senhor preparou aos pecadores, este sim, é Justo e Correto. Que o ser humano não use seu livre-arbítrio como justificativa para sua libertinagem sobre a criação do Senhor. Que saibamos tratar cada criação do Senhor com o devido respeito e que nunca o sangue seja em vão derramado.
Amém.