AQUELA LIGAÇÃO

Essa semana enquanto trabalhava retornei uma ligação perdida, uma voz conhecida atendeu e disse "_Vou passar pra sua mãe"; era uma de minhas primas atendendo o celular de meu pai. Na hora nem reparei, mas ele não gosta que mexam no telefone dele.

Minha mãe disse oi e percebi sua voz embargada pelo choro, naquele instante mil pensamentos se passaram em minha mente em fração de segundos, mas em nenhum meu pai estava, meu padrinho havia chegado à capital ainda naquela tarde, e minha preocupação estava voltada para ele, foi quando minha mãe disse que meu pai havia se acidentado e sua perna estava quebrada, respirei profundo e disse "_Ok! Vocês virão pra cá né? Me avisem quando saírem daí" e ela desligou.

Enquanto ligava para um de meus irmãos pra avisá-lo, me lembrei que ainda naquela manhã pensei em ligar para meu pai, mas pela correria do dia a dia adiei, deixei para mais tarde, ou talvez para o amanhã, caso o mais tarde daquele dia parecesse tarde.

É que a gente adia tanta coisa, a gente deixa tanta coisa pra fazer depois, pra fazer mais tarde, a gente deixa de dizer eu te amo, esperando a hora certa chegar, deixa de amar esperando a pessoa certa aparecer, a gente deixa de viver enquanto assiste a vida passar.

A gente tem medo de não ouvir um eu também, e por isso não diz eu te amo; a gente tem medo de que não atendam e por isso deixa de ligar, a gente tem medo do famoso vácuo, e por isso não manda nem um oi, a gente tem medo de não ser correspondido e por isso tende a não amar...

A gente tem medo de correr o risco, e por isso tende a não se arriscar, teme o perigo, mas também teme o novo, teme a inovação, a gente passa a temer até quando acelera um pouquinho os batimentos do coração.

É que eu deixei a ligação pra mais tarde, eu costumo ligar cedo e pedir a sua bênção para o meu dia e lhe desejar a presença e a proteção de Deus, mas naquela manhã eu adiei, e Deus o trouxe para perto de mim, pra me abençoar de perto, segurado em minha mão... Ao vê-lo, tomei-lhe a bênção, mas dessa vez esta não veio acompanhada do forte abraço que ele tem...

Aquela tarde me fez perceber que não devemos dar data aos nossos sonhos, aliás, devemos amar no impulso, eu disse no impulso e não por impulso, se sentir vontade de amar, ame, se sentir vontade de dizer que ama, diga, se quiser gritar, grite! É que as coisas acontecem num piscar de olhos, a gente nunca sabe o que está por vir, não dá pra prever o próximo segundo, a vida é um presente surpresa, surpresa e imprevisível.

Infelizmente meu pai foi vítima pra que eu pudesse perceber. Não adie a próxima ligação, não deixe de fazer aquela declaração, não planeje o amor, as melhores coisas da vida acontecem no impulso, e não se esqueça que as piores também, não deixe de amar e de esbanjar amor... Ame e diga que ama, se preciso for, grite, grite com vontade, grite sem medo!

Leoneide Ribeiro
Enviado por Leoneide Ribeiro em 02/12/2017
Código do texto: T6187714
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