Saúde

Quando ele projetou devia estar pensando que ali seria uma despensa, onde seriam guardados baldes, vassouras e produtos de limpeza; o tempo comprovou que o lugar era um depósito de sujeira, ratos, e lixeira, para os mais porquinhos que passavam por ali; a realidade afirmava que era um hiato, a lacuna na mente do engenheiro fizera aquela reserva, que a lógica não explicava, nem dava nome.

Era um cubículo, inacessível, no quintal da casa, uma ranhura de 50cm de largura, por 1,30 de profundidade, um terror da engenharia moderna, onde as crianças da casa eram avisadas, pelos pais, para nunca se aproximarem daquilo, nas brincadeiras de esconce-esconde, valendo-se do argumento de que ali morava a Cuca.

A mãe, uma libanesa forte e larga, porém muita simpática, e apegada a valores materiais, sabendo que nunca caberia naquela fenda, até pensou em cobrar ingressos de turistas interessados nas grutas brasileiras, mas teve que admitir que a procura, por parte de pesquisadores, seria pouca, como eram poucos os atrativos oferecidos.

Uma madrugada, uma barulho estranho no quintal, dava a certeza de que a casa estava sendo visitada por alguém que não havia sido convidado; do vitrô do banheiro foi percebido um vulto furtivo, que literalmente pretendia furtar.

A polícia foi acionada e logo chegou ao lugar, policiais vasculharam todo o quintal, sem achar sinais de estranhos no local. Um observador mais atento poderia jurar que eles evitavam acreditar, que um humano, por mais idiota que fosse, se esconderia naquela “garagem” estranha e mal concebida, correndo o risco de ficar entalado para sempre.

O episódio acabou comprovando o quanto a polícia está mal aparelhada, não foi esquecimento, eles simplesmente não tinham uma lanterna para buscas noturnas, e o impasse se estabeleceu, pois ninguém ousava entrar naquela toca, para pegar ladrão à unha, e a gorda e simpática libanesa insistia que o indesejável escondia-se ali.

O caçula, que morava com os pais, teve uma brilhante idéia, para tirar o ladrão da toca, sem que a polícia fosse obrigada a usar a violência, ele foi até o quarto do avô, onde pegou uma lata de achocolatado, que o ancião usava para guardar seu rapé.

Foi um misto de glória e de maldade daquele adolescente, via-se um sorriso maroto em seu rosto, enquanto jogava todo o rapé para dentro daquela famigerada gruta, obrigando o agora caranguejo, andando de viés, a sair daquele cubículo, arrastando preso em seu pé um balde que havia desaparecido há 7 anos.

O inconveniente visitante noturno saiu daquele erro da engenharia muito sujo, e o pobre, vítima do rapé, espirrava, espirrava muito, e sem parar. Sem que fosse premeditado, e também sem nenhuma conotação sádica, um quase distraído policial balbuciou:

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Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 01/12/2017
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