Pena!
Pena tenho daqueles que vivem sem amor, dos que vivem solitários entre os prédios, entre as multidões.. Pena tenho dos que passam fome, dos sem abrigo, dos que podem morrer de frio agora mesmo enquanto escrevo isso, e dos que estão morrendo.. Pena, tenho mais ainda de mim, que de tão tolo, começo a morrer por dentro só de pensar em perder o meu mundo.
Longe das coisas que amo e os meus dias quentes, essa hora amanhã eu seria capa do jornal matinal que atualiza as tristezas do dia:
Mendigo é encontrado morto congelado em praça pública! Jovem comete suicídio ao pular do nono andar! Adolescente morre com overdose no banheiro de sua casa! Morte! (...) É tudo oque tem pra longe daqui essa hora. Bate a fome: vou até a geladeira e tenho oque escolher. Acordo de manhã: tenho sempre a escolha pra onde devo ir, de como deve ser meu dia; sou um príncipe.. Não sou digno da vida voraz como ela realmente é.
Através do sangue dos mortos, penso que poesias mais lindas a vida deles teceria além da minha, eles seriam mais merecedores? Não sei.. Mas, certamente, percebo que depois disso tudo, eu estou morto de alguma forma por dentro.. Percebo que sou um escritor e me junto à eles.