Epílogos escolares

Fim da faculdade. É isso, mais um ciclo escolar que se encerra e eu aqui, surpreso com a multiplicidade pessoal de reações diante da morte, seja ela física ou simbólica; afinal, todo fim é, para mim, uma representação lúgubre. Pensando assim, inclusive, concluo que nos deparamos diariamente com a morte (da refeição que encerramos ao texto que publicamos), embora não a sintamos da mesma forma, pois, enquanto algumas de suas manifestações nos passam completamente despercebidas, outras nos geram cicatrizes para toda uma vida.

Essa ambiguidade do sentir a morte me causa estranheza e perplexidade. Fico repetindo-a diversas vezes a mim mesmo para demonstrar, simultaneamente, o quão complexo e versátil posso ser. Neste momento, ela se revela no comparativo entre o modo como lidei com o fim do ensino médio e como estou lidando com o término do ensino superior.

Ao concluir os estudos da high school à brasileira, “entrei em parafuso”: sentindo-me jogado de volta à solidão, vi-me num ciclo vicioso de saudade e confusão, perdendo-me em meio às próprias verdades e carências; diante disso, parei no tempo. Repentinamente, tudo deixou de fazer sentido e nada que me impulsionasse para frente era válido, uma vez que eu só me importava com o que havia perdido. Horas, dias, semanas e meses foram gastos na minha tentativa – infrutífera, claro – de subverter a lógica inexorável do tempo, buscando, a qualquer custo, viver o passado e anular o presente. Como resultado, tornei-me um ser nostálgico, apegado excessivamente ao que já havia findado, e frustrado, posto que tudo que eu fazia acabava, de uma maneira ou outra, mostrando-se insuficiente aos olhos antiquados que conservava, os quais definiam meu horizonte visual a partir do período romantizado. Enfim, demorei muito – mais de meia década – para processar esta morte, e até hoje me pego, vez ou outra, desejando ter de volta as experiências que marcaram meu saudoso ensino médio.

Em contrapartida, eu não poderia estar mais entusiasmado com o fim do ensino superior. Na minha visão, aliás, vai tarde. Não que este ciclo tenha sido completamente inservível, mas acredito que ele me trouxe muito mais angústias do que alegrias, ensinando-me em maior proporção como não agir a partir daqui do que propriamente algo a reproduzir. Passei, desta vez, meses, semanas, dias e horas contando, esperançosamente, o tempo remanescente para o término de um período do qual quero me ver livre, voltando minhas preocupações a uma dimensão temporal outrora esquecida por mim: o futuro. E, agora que este futuro se tornou presente, eu estou imensamente contente. Contente por ver minha vida na ascendente; contente por tornar meu tempo coerente; contente por enxergar a morte de modo diferente.

Assim, agora acredito ser possível celebrar o fim, vendo-o não somente como algo penoso, enlutante e sôfrego, mas também como expressão da prosperidade, renovação e, principalmente, liberdade.