Mergulhos no tempo
- Pois é rapaz, a gente sai do lugar que nasceu, vem pra cidade grande, pra capital, estuda, adquire novos hábitos, frequenta outros círculos etc., mas guarda na memória, claro, toda a história de nossa infância e pré-adolescência. Os tempos vão passando, a gente vai se sofisticando a ponto de viver uma realidade absolutamente diferente daquela daqueles tempos que quase se apagam no frenesi atual do dia a dia. Dia desses quando voltei lá, minha tia, já bem velhinha andava bem mais lentamente pelos cômodos onde antes desfilava sua energia e espalhava seu carinho.
- Walber! Vá comprar pão! Meus olhos se encheram de lágrimas. O gatilho foi disparado. Dispensei insistentemente o dinheiro enroladinho que ela estendia e saí como quem não quer levar outro grito de alerta que eu sabia: dessa vez não viria. E lá estavam eles. Na esquina. Quase todos. Fiquei parado olhando as poses. Eram os mesmos. Quase todos. As conversas haviam mudado um pouco, evidentemente, mas os tons, os jeitos eram os mesmos. Comentavam sobre todo mundo que passava, sobretudo as “gatinhas”. Antigamente eu costumava me demorar com eles e esquecia que havia ido comprar pão. Não poderia perder aquela oportunidade. Aí percebi o quão distante estivera, mas que, apesar disso, conseguia mergulhar naquele universo quase automaticamente, porém eles não têm uma pálida ideia do meu; do que vivo atualmente. Acabei por repetir a mesma demora, mas com o gosto bucólico de ser dois; como se estivesse num limbo, num lapso de tempo em que vivenciasse o passado no presente.
Essas são as lembranças de um amigo e colega de trabalho numa conversa acontecida em 1981 enquanto descansávamos após o jantar, época em que estivemos trabalhando no interior da Bahia e ele, de tempos em tempos, vinha ao de Pernambuco visitar a família.
- Pois é rapaz, a gente sai do lugar que nasceu, vem pra cidade grande, pra capital, estuda, adquire novos hábitos, frequenta outros círculos etc., mas guarda na memória, claro, toda a história de nossa infância e pré-adolescência. Os tempos vão passando, a gente vai se sofisticando a ponto de viver uma realidade absolutamente diferente daquela daqueles tempos que quase se apagam no frenesi atual do dia a dia. Dia desses quando voltei lá, minha tia, já bem velhinha andava bem mais lentamente pelos cômodos onde antes desfilava sua energia e espalhava seu carinho.
- Walber! Vá comprar pão! Meus olhos se encheram de lágrimas. O gatilho foi disparado. Dispensei insistentemente o dinheiro enroladinho que ela estendia e saí como quem não quer levar outro grito de alerta que eu sabia: dessa vez não viria. E lá estavam eles. Na esquina. Quase todos. Fiquei parado olhando as poses. Eram os mesmos. Quase todos. As conversas haviam mudado um pouco, evidentemente, mas os tons, os jeitos eram os mesmos. Comentavam sobre todo mundo que passava, sobretudo as “gatinhas”. Antigamente eu costumava me demorar com eles e esquecia que havia ido comprar pão. Não poderia perder aquela oportunidade. Aí percebi o quão distante estivera, mas que, apesar disso, conseguia mergulhar naquele universo quase automaticamente, porém eles não têm uma pálida ideia do meu; do que vivo atualmente. Acabei por repetir a mesma demora, mas com o gosto bucólico de ser dois; como se estivesse num limbo, num lapso de tempo em que vivenciasse o passado no presente.
Essas são as lembranças de um amigo e colega de trabalho numa conversa acontecida em 1981 enquanto descansávamos após o jantar, época em que estivemos trabalhando no interior da Bahia e ele, de tempos em tempos, vinha ao de Pernambuco visitar a família.