Nulla dies sine linea - 25/11/2017
Stefan Zweig descreve maravilhosamente os últimos momentos de Cícero no final do primeiro capítulo do brilhante livro que em espanhol se chama "Momentos estelares de la humanidad":
"(durante a emboscada) os portadores armados que rodeavam a liteira se dispuseram a lutar, porém seu senhor lhes ordenou que depusessem as armas. Em todo caso, sua vida já devia estar chegando ao fim, por que deviam sacrificar-se outros mais jovens? Nesta última hora, o homem que se tinha mostrado sempre vacilante, inseguro e raras vezes valente, demonstrou resolução e intrepidez. Como um verdadeiro romano, sentiu que ele, como um mestre da filosofia do mundo, devia afrontar essa prova última morrendo sem espanto--sapientissimus quisque aequissimo animo moritur. Por ordem sua, os escravos se afastam. Desarmado e sem opor resistência, Cícero apresentou sua cabeça grisalha aos assassinos, dizendo com dignidade: 'Sempre soube que era mortal' -- non ignoravi me mortalem genuisse. Mas os assassinos não queriam filosofia; queriam o prêmio prometido. Não houve demora. Com um poderoso golpe, o centurião pôs fim à vida do homem desarmado.
"Assim pereceu Marco Túlio Cícero, o último baluarte da liberdade romana, mais heróico, mais poderoso e mais leal nesta hora final do que havia sido nas milhares e milhares de horas que tinha vivido antes".