ENQUANTO FOR POSSÍVEL...

Hoje pensei que fosse pirar!

Não sou depressiva e nem me deixo levar por redundâncias sentimentais.

Se algo é impossível, busco algo possível.

Mas...

Hoje caí no choro.

Me senti desamparada.

Foram alguns instantes, apenas. Logo superei.

Geralmente eu escrevo, mas dessa vez foi braçal mesmo.

Havia uma estante dessas moduladas para armar e mergulhei nessa tarefa.

Ela está ali, de pé, ja toda ocupada ,bem ali ,em um canto da diminuta área de serviço.

Está atrapalhando um pouco a entrada do banheiro alternativo mas sou magra, eu passo .

Claro que como sou desastrada vou acabar me envolvendo em algum mini acidente doméstico, mas faz parte.

Resolvi acabar com uma prateleira ridícula que lá estava então, tenho de me adaptar.

Interessante como somos fáceis de nos adaptar.

Penso isso todo tempo enquanto no cotidiano.

Mas Darwin disse que vencerá o que tiver melhor capacidade de adaptação. Isso é da Evolução da espécie. Minha teoria preferida sobre a origem dos seres.

A minha própria vida é uma adaptação construída dentro dos últimos doze anos

Livrei-me de um erro amoroso e prossegui.

E venho vivendo comigo ,aprendendo comigo, sendo solidária e hostil comigo, me repreendendo e me premiando.

O sofrimento é promessa que a vida cumpre, superá-lo e ter alegrias são conquistas nossas.

Felicidade é uma quimera vez que vivemos em uma sociedade desigual.

Não é possível ser feliz enquanto formos tão poucos a ser.

E quando eu entro em crise ,como aconteceu hoje, o que é algo sem sentido, é hora de me repreender por tal paradoxo.

Que direito tenho de pirar?

Esta existência é fruto de milênios de evolução, a Natureza se transforma e que sou eu? Uma pequena partícula nessa transformação.

É escrevendo que eu encontro finalmente a paz comigo mesma que esteve abalada por alguns instantes.

Registrando em palavras escritas o que se passou comigo após eu levantar desastradamente a cabeça e leva-la de encontro a ponta de uma prateleira e aí sentir dor. Que me revoltou, que me fez chorar de desamparo, que me fez lembrar e chamar por minha mãe.

Eu me machuco facilmente, eu era criança ,lembro e já era famosa por não prestar atenção por onde andava.

E os tropeços foram muitos pela vida ,físicos e emocionais.

Mas já que estou aqui, na segunda metade de minha sexta década de vida, vivendo sem dificuldades, que direito tenho de me amofinar por uma cabeçada?

Ora, ora!! Foi um incidente doméstico na solidão que escolhi como forma de convivência.

Vou enfim, terminando o dia contando a historia da minha "dor", esperando que o travesseiro me dê algum sonho interessante para passar pelo menos cinco horas em outra dimensão.

Amanhã é novo dia, o amanhecer vai com certeza me fortalecer, o possível pode acontecer.

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NINFEIA G
Enviado por NINFEIA G em 28/11/2017
Código do texto: T6184067
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