Henri Burin des Roziers, Um Francês Também Brasileiro e Pai dos Pobres

 

Morreu hoje, dia 26 de novembro de 2017, na França, Frei Henri Burin des Roziers, grande homem dedicado à causa dos pobres. Era francês, naturalizado brasileiro, doutor em Direito e sacerdote católico apostólico romano. Militou durante muitos anos em Xinguara e região, como advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

 

Não tinha intimidade com ele. Estive com Frei Henri apenas uma vez, quando eu ainda era acadêmico de Direito, na Universidade Federal do Pará, quase no fim do curso. Foi no ano de 2000 ou 2001, por aí assim, no encontro da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (RENAP), no Itacauinas Hotel, Marabá, Estado do Pará, encontro do qual participaram também meus colegas de Direito José Batista Gonçalves Afonso e Valdimar Lopes Barros.

 

Participativo e muito carismático, Frei Henri encantava a todos os presentes com a sua simplicidade e o jeito de falar, num sotaque, a meu ver, mais para inglês do que para francês. Lembro-me dele, por exemplo, pronunciando a expressão “cemitério clandestino”. Pronunciava o “r” na forma da pronúncia inglesa e punha a sílaba tônica de “clandestino” no “é”, ficando: “clandéstino”. Guardo dele boa lembrança e lamento por sua morte.

 

Tenho um livro de autoria dele,[1] que tentei encontrar rapidamente, aqui agora, na bagunça a que denomino biblioteca. Infelizmente não o encontrei, faz anos que o li e a coisa aqui está deveras bagunçada: livros pelo chão, em cima da mesa, nas prateleiras, dentro de caixas e até em cima do sofá. Como estava pressa para escrever, embora sabendo onde está, não quis remover caixas, livros, jornais e revistas para, enfim, alcançá-lo.

 

Fica aqui registrado o meu sentimento de perda e a minha solidariedade aos que com ele viveram e conviveram e, por isso, estão de luto. Meus pêsames, minhas condolências! Frei Henri, religioso que era, não teve filhos biológicos, mas seu desenlace deixa muitos órfãos no Brasil. Era, pelo que sei, um pai dos pobres e perseguidos, ao lado dos quais sempre se posicionou na luta contra os poderosos latifundiários da região.

 

Encerro esta crônica, em homenagem a Frei Henri, com estas palavras, que me parecem propícias para expressar sua luta vida afora: “E as mesmas coisas, como disseste, uns consideram justas, outros injustas, sendo essa a diferença de opinião que faz nascer entre eles a discórdia e as guerras, não é assim?” (PLATÃO, Eutífrone, 8-a). Para ele, mais do que ninguém, a causa dos pobres era justa.

 


[1] Fui traído pela memória. O livro é de autoria de Bernardete Toneto e tem o título Frei Henri des Roziers.